“Falso incentivo” afasta infeciologistas do Hospital de Setúbal

O Estado corta 40 por cento do vencimento a quem complete três anos de trabalho numa área e especialidade carenciada. Só o Hospital de Setúbal perdeu quatro infeciologistas no espaço de um ano.

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) diz que muitos profissionais estão a ser enganados pelo Estado quando se candidatam a vagas para zonas carenciadas, uma vez que depois de três anos a ocuparem os lugares para os quais concorreram mediante o pagamento de um acréscimo salarial de 40 por cento, esse mesmo valor é-lhes retirado.

“Os médicos que concorrem a vagas para zonas carenciadas beneficiam desse acréscimo salarial, porque têm que se deslocar para locais fora da zona de residência e porque têm despesas acrescidas devido à mudança da família. Seria normal, até para efeitos de serviço, para que fosse obtida a consistência dos serviços clínicos nessas regiões e hospitais, que ao fim dos mesmos três anos continuassem a auferir os 40 por cento suplementares do vencimento”, disse ao Semmais a dirigente sindical Tânia Russo.

No Hospital de Setúbal, segundo referem os dirigentes do SMZS, está iminente a retirada do sistema de incentivos a um médico infeciologista em plena pandemia, situação que se torna ainda mais grave quanto se sabe que o mesmo estabelecimento perdeu, no espaço de um ano, quatro clínicos da mesma especialidade.

A dirigente do SMZS disse ainda que há zonas onde abrem duas vagas para o mesmo hospital e da mesma especialidade, sendo que uma é considerada carenciada e a outra não. “Os médicos concorrem a essas vagas sem saberem qual delas é a que dá direito à remuneração extra de 40 por cento. Tal faz com que existam disparidades inaceitáveis e que, em ocasiões futuras, tal como já acontece, muitas dessas vagas fiquem por preencher”, explicou.

Tânia Russo afirmou ainda que um médico que concorra a uma vaga rotulada de carenciada tem obrigatoriamente de cumprir os três anos para os quais se comprometeu. “Caso tal não aconteça, caso saia mais cedo seja por que motivo for, é obrigado a devolver tudo quanto auferiu de aumento. No entanto, ao findar esses mesmos três anos, esse mesmo aumento é-lhes retirado e ficam sem ganhar o que antes fora considerado um incentivo. Um falso incentivo”, reiterou.

Num período de pandemia, onde se faz sentir a falta de médicos em muitos locais do interior do distrito, a saída dos que existem é considerada pelo SMZS como uma perda de regalias por parte das populações. Os sindicalistas pretendem agora que a situação seja revista pelo Ministério da Saúde e já solicitaram uma reunião com a ministra Marta Temido.