Criadores de ovinos da Arrábida querem que empresas, entidades e particulares adotem animais para assim evitarem a sua extinção. A produção de Queijo de Azeitão iniciou-se com leite das saloias.
As ovelhas de raça saloia, que terão estado na origem do Queijo de Azeitão quando este, por volta de 1830, começou a ser fabricado nos concelhos de Palmela, Sesimbra e Setúbal, estão à beira da extinção. Nos municípios do distrito, onde outrora foram abundantes, são agora apenas umas quantas dezenas não especificadas. É por isso que, este sábado, por intermédio da Associação Regional de Criadores de Ovinos da Serra da Arrábida (ARCOLSA) se vai realizar, no Mercado da Aldeia, na Quinta do Anjo, uma iniciativa que visa arranjar “padrinhos” para alguns exemplares e assim dar-se um passo para salvar a espécie.
“A ARCOLSA tem, neste momento, 16 fêmeas e dois machos. Não tem mais, não porque lhe falte espaço, mas porque não possui meios financeiros para criar mais animais”, diz ao Semmais o dirigente daquela associação, Francisco Macheta, que é também um dos mentores do evento que conta também com a colaboração da Junta de Freguesia da Quinta do Anjo e da câmara de Palmela.
Falando sobre o projeto “Adote uma Saloia”, Francisco Macheta atesta que a ideia é convencer entidades, empresas e até particulares a adotarem um ou mais animais. “Com os apoios que esperamos receber será possível aumentar o número de exemplares de saloias, cujo leite era antigamente aproveitado por cerca de uma centena de produtores para fabricar o Queijo de Azeitão”. Disse ainda que quem comparticipar (prevê-se que um mínimo de 200 euros por animal pode assegurar a sua subsistência, com cuidados alimentares e veterinários incluídos) terá não só direito de o visitar quando quiser, mas também poderá utilizar as instalações da associação (o antigo parque de leilões do Iroma na Quinta de São Gonçalo, em Cabanas) sempre que, por exemplo, queira organizar um qualquer evento.
Novos exemplares da espécie serão inscritos no livro genealógico
O responsável da ARCOLSA afirma que o declínio das saloias na região começou há alguns anos, quando os produtores, sem terem quaisquer apoios para criarem estes animais, começaram a escolher outros, de raças estrangeiras, capazes de produzir maiores quantidades de leite. “A qualidade do queijo não se adulterou, mas enquanto os exemplares das saloias são resilientes e têm a capacidade de voltar a produzir grandes quantidades logo após ter passado algum período de maior carência alimentar, já as importadas não conseguem repor os mesmos níveis produtivos passando pelas mesmas faltas de alimentos”, explicou.
A ideia de recuperar este tipo de ovelhas surgiu há cerca de três anos, quando um produtor local, que então tinha um pequeno rebanho, resolveu doá-lo à ARCOLSA. Desde então, tenta-se aumentar o efetivo garantindo-se a inscrição dos exemplares no livro genealógico. Francisco Macheta diz que, em todo o país e especialmente em alguns concelhos do Alto Alentejo, podem existir 2.000 exemplares, menos 8.000 dos que existiam quando os criadores começaram a importar outras raças.