António Caiado (socorrista): “Os que receberam confiança não a justificaram”

No início da pandemia, em março do ano passado, muitas das pessoas que antes se haviam voluntariado para ajudar nas equipas de socorro a doentes Covid, começaram a pedir escusa para determinadas tarefas. Havia o receio de poderem ser contaminadas. Era a chamada época negra. Agora, com maior conhecimento e mais meios de proteção individual, o futuro clareou um pouco: é cinzento.

A apreciação é de António Caiado, coordenador local de emergência na Cruz Vermelha de Setúbal. No último ano, a sua vida tem estado ligada a dois grupos de risco: os doentes com Covid-19 e os que necessitam de cuidados de hemodiálise. O seu testemunho abarca os cuidados hospitalares, mas também as ações de formação, as virtudes do Serviço Nacional de Saúde e, ainda, a falta de cuidado de muitos dos que adoecem.

“Mais do que criticar o Serviço Nacional de Saúde, que em Portugal trata toda a gente, independentemente da sua condição económica, o que não acontece noutros países do mundo, as pessoas deveriam preocupar-se com os seus comportamentos. Fala-se muito, mas a verdade é que não foi por causa do Natal ou do Ano Novo que temos esta nova vaga. Ela existe porque grande parte das pessoas não tiveram as atitudes que deveriam ter. Não se protegeram e não respeitaram os outros. Deu-se um voto de confiança à população e esta, em grande número, não o soube merecer”, disse ao Semmais.

António Caiado afirma que, em 2020, havia profissionais de saúde que ficavam contaminados porque, por exemplo, cometiam erros ao despir os fatos de proteção. “Hoje existe muito mais informação e formação. Por isso existe menos receio, menos perigo de contágio e uma inexcedível vontade de dar tudo o que seja possível para acudir a quem precisa”, assegura.

O socorrista diz que, mesmo com alguns casos confirmados de Covid-19 nas equipas da Cruz Vermelha, nunca a corporação perdeu a operacionalidade. “Há rigor no cumprimento das determinações e as nossas equipas vão a todo o lado. Têm formação específica e agora ajudam no processo de massificação de testes, o qual é fundamental para se poder travar a pandemia”.

O responsável da Cruz Vermelha refere, por outro lado, que o principal problema que deteta será o da falta de meios hospitalares, sendo um facto que locais para 20 camas têm agora o dobro e, por outro lado, falta de pessoal médico, de enfermagem e auxiliar.