UÉ desenvolve processo tecnológico para a produção em massa de túberas

Com utilização em diversos setores, investigadores desenvolveram um processo tecnológico para a obtenção de plantas inoculadas visando a produção de túberas, lançando as bases para uma nova forma de produção de alimentos com propriedades nutracêuticas e a exploração sustentável.

As túberas são a frutificação hipógea, ou seja, cogumelos subterrâneos, de fungos micorrízicos que se associam tradicionalmente a raízes de plantas anuais. O desafio de conseguir a associação micorrízica deste fungo com plantas perenes, como o Cistus salviifolius (sargaço) e Cistus ladanifer  (esteva), foi alcançado, o que permite a sua produção em massa para utilização em diversos setores.

Esta descoberta, aguarda atribuição de patente europeia e, de acordo com Celeste Santos e Silva, professora do departamento de Biologia e investigadora no MED, uma das etapas cruciais deste processo tecnológico foi o isolamento do micélio de Terfezia em cultura pura, ou seja, “conseguir fazer crescer este fungo numa caixa de Petri com ágar-ágar, que dá ao meio uma consistência gelatinosa, e com uma determinada composição de nutrientes e minerais”.

Como explica a investigadora, um resultado apenas é possível graças a muitas tentativas. “Muitas cepas não podem ser sub-cultivadas, e assim até agora, as poucas tentativas bem-sucedidas, principalmente com Terfezia, apresentavam um crescimento muito lento e deficitário para que fosse possível produzir micélio nas quantidades adequadas”.

Esta invenção, que tem sido desenvolvida pela Universidade de Évora (UÉ), refere-se ao processo que permite melhorar o isolamento e a manutenção da cultura de micélio de espécies do género Terfezia. Este género é considerado o mais diverso, rico em número de espécies, do grupo das “trufas-do-deserto”, lê-se no comunicado enviado à nossa redação. “Conseguimos melhorar as taxas de isolamento e aumentar a proliferação de Terfezia spp de forma confiável e reproduzível” sublinha a investigadora da academia eborense.

“Esta investigação lançou ainda as bases para uma nova forma de produção de alimentos com propriedades nutracêuticas” disse Celeste Santos e Silva, referindo-se à combinação dos termos “nutrição” e “farmacêutica” mostrando utilidade, entre outros para o sector agro-florestal e “que permitirá a exploração sustentável deste recurso micológico, de uma forma sustentável, resiliente e economicamente rentável”.

A investigadora acrescenta, também, que a disseminação de plantas inoculadas com Terfezia spp., “previne a desertificação e erosão do solo, reforça a integridade e a multifuncionalidade da paisagem e permite a recuperação de áreas ardidas e/ou com solos degradados”. A concretização desta nova forma de produção assegura a investigadora do MED, “possibilitará a criação de mais emprego, invertendo a tendência atual para a desertificação das áreas rurais”.

No âmbito do projeto “Micorrização de Cistus spp com Terfezia arenaria (Moris) Trappe e sua aplicação na produção de túberas”, o grupo de investigadores da Universidade de Évora, liderados por Celeste Santos e Silva, realizou uma prospeção exaustiva na procura de túberas e descreveu duas novas espécies para a ciência, a Terfezia lusitanica e Terfezia solaris-libera.

A investigadora aproveita, ainda, para salientar o quão difícil é “identificar novas espécies dadas as características morfológicas de Terfezia, que são visualmente muito semelhantes entre si, e aqui a biologia molecular foi absolutamente fundamental”.

Por último, Celeste Santos e Silva, destaca que foi possível “atualizar e resolver problemas sobre a taxonomia e filogenia deste género”.