Com a pandemia sob pano de fundo e a ser a prioridade mais urgente, o autarca de Grândola afirma que o Governo vai ter que olhar para o Litoral Alentejano com outros olhos. Sobre a atividade do concelho, Figueira Mendes acredita que vai manter a trajetória de crescimento e no regresso do turismo em força.
Não está a ser fácil lidar com esta nova fase da pandemia, os investimentos no concelho têm sido afetados?
Para já nenhum dos investimentos previstos foi cancelado, mas verifica-se em alguns setores que o ritmo abrandou. Era inevitável com o contínuo aumento de casos e com os vários estados de emergência.
Quais são os setores mais afetados?
Os impactos da pandemia têm sido transversais a todos os setores. Restauração, hotelaria, turismo, e serviços são dos mais afetados.
Há, naturalmente, muitas empresas em dificuldade…
Sim, as micro, pequenas e médias empresas estão a atravessar um período muito complicado, bem como algumas das grandes. Setores como o comércio, restauração, turismo e aeronáutica estão numa situação aflitiva.
A experiência acumulada como autarca tem sido importante neste cenário de crise. O que tem mudado da vaga de março para a atual situação?
Apesar de ser a primeira vez que estamos a atravessar uma pandemia deste género, a experiência adquirida tem ajudado, sobretudo na construção de uma equipa competente e eficaz. Comparativamente com o mês de março, o facto de termos mantido ativo, desde o início da pandemia, o nosso Plano de Emergência e Proteção Civil, bem como, outras medidas e ações de emergência, faz com que estejamos melhor preparados para enfrentar esta nova vaga. Tem sido um enorme desafio, mas com trabalho, determinação e empenho tem sido possível superar os vários obstáculos que surgem diariamente.
Quais as situações mais complicadas de gerir?
Continuar a assegurar a intensa atividade municipal com grande parte dos trabalhadores em casa, motivado por diversas razões relacionadas com a pandemia, tem sido uma situação de grande complexidade.
Tem sentido articulação por parte das autoridades de saúde?
Temos tido uma articulação constante com as autoridades de saúde, prestando grande colaboração, sem a qual, aliás, não teria sido possível dar resposta às muitas situações que se levantam no dia-a-dia.
De alguma forma ficou mais visível a falta de investimento na área da saúde por parte da administração central?
Claramente. Infelizmente a situação da pandemia veio provar que tinham razão todos aqueles que há muitos anos reclamavam mais investimento no setor da saúde.
“Esta terceira vaga veio agravar ainda mais os investimentos na aeronáutica”
Em dezembro acreditava que o projeto da Lauak, embora tenha abrandado o seu desenvolvimento, podia retomar mais atividade em 2021…
Sim, é verdade, mas infelizmente isso ainda não aconteceu. Esta terceira vaga da pandemia veio agravar ainda mais a crise neste setor.
É suposto haver algum retrocesso ou acredita ser apenas conjuntural?
Vai depender do tempo que durar a pandemia. Esperamos que seja apenas conjuntural e que possamos recuperar o grande desenvolvimento que estávamos a registar no concelho.
Para além da questão económica, que outros efeitos mais se têm feito sentir, nomeadamente nas áreas sociais?
O agudizar da pandemia tem agravado a situação socioeconómica da população. Neste sentido criámos desde a primeira hora respostas sociais e de emergência para responder às diversas necessidades. Apoio alimentar, apoio psicológico e isenções de taxas e tarifas foram algumas dessas medidas.
O turismo continua a ser o trunfo para a recuperação económica pós-pandemia?
Claro que continuamos a apostar no turismo e vai ser muito relevante para essa recuperação, mas também apostamos na agricultura e floresta e na indústria, enquanto setores estratégicos para o desenvolvimento sustentável e harmonioso do concelho.
Mas o rombo do cluster turístico tem sido grande, sofreu um grande revés…
É verdade, mas o concelho de Grândola tem características ímpares e uma oferta turística de grande qualidade e diversidade. Não tenho dúvidas que continuará a ser um destino de eleição. Sabemos que há quebras significativas, mas neste momento ainda não dispomos dos números concretos, sendo que os grandes projetos continuam a rolar.
Mesmo o dos Pinheirinhos, Costa Terra e outros…
Sim continuam a avançar. Os novos proprietários têm demonstrado capacidade de investimento e estão empenhados em concretizar num curto espaço de tempo estes projetos.
Há notícias de que o setor agroalimentar tem vindo a crescer em toda a região, qual é o caso de Grândola?
Também no nosso concelho o agroalimentar tem ganho expressão, nomeadamente as hortícolas, leguminosas, cultura do arroz e descasque e transformação de frutos de casca rija.
Em termos estratégicos como vê o posicionamento do concelho, tanto no distrito de Setúbal, como no Alentejo?
Grândola tem uma posição central e estratégica no Litoral Alentejano – com ligações privilegiadas com todo o Alentejo e com o distrito de Setúbal.
Que infraestruturas considera que ainda fazem falta no que concerne ao Litoral Alentejano?
A requalificação do IC33, a construção do IP8, a modernização da linha férrea Sines-Ermidas-Grândola e a construção da via Vasco da Gama para ligar os concelhos do Litoral Alentejano continuam a ser investimentos urgentes e fundamentais para o desenvolvimento da região.
Aliás, precisamos que o Governo olhe para o Litoral Alentejano como uma sub-região, com um grande potencial e com grande impacto no desenvolvimento económico e social em todo o Alentejo e a nível nacional. Os milhares de milhões de investimentos previstos a médio prazo para estes cinco municípios exigem respostas urgentes a nível das infraestruturas rodoferroviárias, culturais, desportivas, sociais, de educação e de habitação.
Pedia-lhe uma abordagem ao papel central do porto de Sines…
O porto de Sines tem condições excecionais para se afirmar como um dos principais portos da Península Ibérica. Importa agora avançar com as infraestruturas necessárias para o seu crescimento. Contudo, é fundamental evitar intervenções que tenham impactos negativos nos territórios vizinhos, como é o caso do traçado ferroviário pela serra de Grândola.
“É fundamental que os operadores turísticos reclamem a abertura do aeroporto de Beja”
E já agora, não seria altura de dar mais peso ao aeroporto de Beja?
Concordo. O aeroporto de Beja continua subaproveitado. É uma infraestrutura de grande importância para alavancar o desenvolvimento da região e poderá ter um papel fundamental no presente e no futuro. É fundamental para o Litoral Alentejano. Todos os promotores turísticos reclamam a sua abertura.
Já é possível fazer um balanço deste mandato?
Tem sido um mandato extremamente positivo com a concretização de importantes investimentos estruturantes em todo o concelho, que eram há muito necessários. Investimentos que estão a contribuir, de forma significativa para a melhoria da qualidade de vida da população, coesão social, desenvolvimento económico e criação de postos de trabalho. É inquestionável a grande dinâmica que a câmara tem demonstrado em todas as áreas de intervenção.
Há carteira de obras em curso, quais?
Há muitas obras já concretizadas e há também muitas em curso ou a começar em curto prazo. Das já concretizadas destaco a requalificação da EB1 de Grândola e de diversas Escolas Rurais, do Jardim 1.º de Maio, da antiga Igreja de São Pedro, da estrada de acesso ao Lousal, a construção da estrada de ligação da ZIL ao IC1, da Casa Mostra de Produtos Endógenos, dos Centros Comunitários da Aldeia do Pico e de Água Derramada, diversos investimentos em arruamentos e estradas municipais, recuperação do parque habitacional municipal, redes de abastecimento de água e saneamento e equipamentos desportivos.
Em curso temos a Avenida Jorge Nunes, a Biblioteca e Arquivo, o reforço de abastecimento de água a Melides, a estrada das Sobreiras Altas, a Olaria de Melides, o acesso principal à ZIL, os passadiços de acesso às Praias Atlântica e Aberta Nova, os Antigos Paços do Concelho e a Casa Frayões Metello. Para iniciar em breve temos a construção de infraestruturas nos loteamentos L3 e L1 no Carvalhal, a ampliação das infraestruturas da ZIL – Fase 3, as estradas Aldeia do Pico-Palhotas, Viso e Aldeia da Justa-Cadoços, a construção de espaços de lazer nos Cadoços e no Bairro do Arneiro, o Centro de Recolha de Animais, a requalificação do Cine Granadeiro – Auditório Municipal, entre outras.
Algumas destas obras tiveram apoio comunitário. Como tem sido a execução desses fundos?
Sim, grande parte delas teve apoio comunitário. Temos tido um desempenho exemplar na captação de fundos comunitários. Conseguimos concretizar, num curto espaço de tempo, diversas obras estruturantes – de grande envergadura, que já ascendem a 20 milhões de euros de investimento total.
E a situação financeira é estável? Que rácios dessa performance quer destacar?
Alcançámos uma situação financeira estável e equilibrada, essencial para conseguirmos aproveitar em pleno o quadro comunitário. Comparativamente com o ano de 2013, a divida passou de 14 milhões para 4.4 milhões, o prazo médio de pagamento a fornecedores passou de 124 dias para 23 dias e reduzimos a zero os pagamentos em atraso.
CAIXA
“Cedo” para pensar nas autárquicas e o “truque” das CCDR
Figueira Mendes é um dos autarcas mais experientes da região e diz que “ainda é cedo” para pensar em recandidaturas. “Continuo focado no cumprimento do plano para este ano e no combate à pandemia”. O presidente de Grândola também não vê razões para qualquer adiamento das autárquicas previstas para o próximo mês de outubro. E sobre a nova orgânica das CCDRS mantém a ideia de que pouco se alterou. “Foi mais um truque para adiar a criação das regiões administrativas”, uma vez que, critica, “continuam a ser o que são: estruturas desconcentradas da administração central, por ela controladas, tuteladas e dirigidas”.