Aumento da criminalidade motiva criação de gabinete da APAV em Almada

O concelho foi, em todo o distrito, o que registou, no ano passado, maior número de participações criminais: 5.736. Violência doméstica ocupa quase 75 por cento do trabalho da associação.

O concelho de Almada tem, desde 15 de abril, um gabinete de apoio à vítima. As instalações da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), no centro da cidade, foram criadas na sequência do acréscimo de criminalidade relatada às diversas entidades policiais e instituições não judiciais. Os dados do Relatório Anual de Segurança Interna de 2020 dizem que o concelho foi o que maior número de participações criminais recolheu em todo o distrito, chegando aos 5.736 casos. Este valor é, no entanto, bem inferior ao que a APAV contabilizou em 2019, quando se chegou aos 6.814 crimes.

“No concelho existem diversas entidades que trabalham no apoio à vítima, no entanto entendemos que há necessidade de criar novos e mais mecanismos, de arranjar respostas com maior eficácia, sejam elas na forma de apoio judicial, emocional, jurídico ou outros”, disse ao Semmais Sónia Reis, a psicóloga e gestora do gabinete da APAV inaugurado na Rua D. João Castro.

Sónia Reis terá a acompanhá-la no gabinete de Almada a jurista Inês Gonçalves. As duas, juntamente com os voluntários, irão prestar apoio a, pelo menos, 163 pessoas residentes no concelho. Este foi o número dos que, em 2020, recorreram aos gabinetes existentes nos municípios mais próximos (Lisboa e Setúbal).

 

Maioria dos utentes da APAV são vítimas de violência doméstica

“As estatísticas nacionais referem que 75,4% das pessoas que recorrem à APAV são vítimas de violência doméstica, sendo que destas, 74,9% são mulheres, com uma média de idades de 40 anos e que se queixam dos maridos, companheiros, ex-companheiros ou filhos”, explicou Sónia Reis, salientando, no entanto, que aos serviços da instituição podem acorrer vítimas de todas as formas de violência.

A mesma responsável entende que o novo serviço poderá ser “muito importante” nas relações a estabelecer com as autoridades judiciais locais. “A articulação com os tribunais e as polícias, o acompanhamento dos utentes em diversas diligências, são fatores de grande relevo. Cria-se um clima de maior proximidade e haverá mais troca de informação útil. Haverá um trabalho complementar que ajudará nas mais diversas situações, nomeadamente na avaliação do grau de risco”, disse.

O gabinete de Almada, que irá funcionar de segunda a sexta-feira, entre as 9h30 e as 17h30, está instalado num edifício cedido pela câmara, sendo constituído por duas salas de atendimento, uma sala de espera, uma sala para crianças e uma outra destinada aos técnicos.