O problema que vive hoje no Centro Hospitalar de Setúbal – Hospital S. Bernardo já dura há muito tempo e esteve sempre longe de ser resolvido. Por esta e por algumas das últimas administrações.
Até ao eclodir da pandemia, a unidade era sustentada por uma espécie de paz podre, com avanços e recuos no que se refere às suas necessidades. Físicas e estruturais, no que toca à premente ampliação; e de recursos humanos, havendo, à época, dificuldades na contratação de profissionais, tendo em conta o cutelo das finanças sobre as administrações hospitalares, bem como alguns diferendos internos que nunca cessaram.
O período do toca a reunir surgido no epicentro da crise sanitária ‘tapou’ o problema e eternizou as soluções, uma vez que, mesmo em contexto de dificuldades, foi possível ao S. Bernardo sair com alguma distinção desta provação trazida pelo vírus, mercê, em primeiro lugar, do esforço dos profissionais que ali operavam. E, porque não dizê-lo de uma administração fechada que teve que por mãos à obra e entregar nas mãos de quem sabe a gestão das rotinas.
Tudo isso veio agora a lume, com desfecho que lembra um hospital do terceiro mundo. Nenhum dos problemas identificados e discutidos há anos foi resolvido. Estalou o verniz e foi preciso um grito de alerta inusitado, com a demissão do diretor clínico, seguido dos seus pares, para recolocar a questão outra vez na primeira fila. O Centro Hospitalar de Setúbal precisa de um plano de emergência e não apenas de remendos. Sem demoras, sem achaques, sem ladaínhas, sem truculências.
Entretanto, há que cuidar dos que mais precisam. Os doentes e utentes de uma das mais importantes unidades hospitalares da região, que merece, mais que tudo, que a tutela lhe dê o devido valor e a chancela de nível que ambiciona e se justifica. É preciso acabar com este caos, chamando à mesa das negociações todos os implicados.
Mas a pergunta que se impõe é como se deixou chegar a situação do hospital S. Bernardo a este ponto. E quem, agora, passadas as eleições autárquicas, onde o hospital foi joguete político e partidário, se chega à frente e assume as responsabilidades. A começar pelo Governo que ainda não teve pulso para investir e dar um murro na mesa. Mas também a administração que insiste na cegueira de querer fazer um caminho sem ouvir a classe médica e outros interlocutores.
Raul Tavares
Diretor