A primeira disputa entre dirigentes da atual e da anterior distrital vai ocorrer no final do mês na eleição para a concelhia de Setúbal. Mas a divisão promete estender-se aos congressos nacional e distrital.
A corrida à liderança da concelhia de Setúbal, agendada para o próximo dia 31, promete ser o primeiro ‘round’ de uma disputa mais alargada para a distrital, eleição que deverá ocorrer em fevereiro do próximo ano.
João Viegas, o antigo líder da distrital dos centristas, que nos últimos dois anos diz ter sido “afastado” das lides partidárias, regressa para disputar a liderança com Paulo Santos, um outro histórico do CDS-PP em Setúbal, que faz parte da atual distrital, cuja estratégia tem assentado “numa renovação de quadros.
Com João Viegas, muito chegado a Nuno Magalhães, outro antigo presidente da distrital, surgem nomes como António Maria Gonçalves, que já presidiu à concelhia, a antiga presidente da JC, Catarina Saldanha ou Ana Clara Birrento, uma das figuras mais gradas dos centristas na anterior distrital. “Estão em causa os últimos resultados autárquicos que foram muito maus no distrito, mas especialmente em Setúbal, onde perdemos a nossa representação autárquica. O partido tem sofrido muito e é nossa obrigação fazer alguma coisa para inverter a situação”, explica ao Semmais o candidato João Viegas.
Paulo Santos, por sua vez, que passou a delegado da concelhia em outubro de 2020, por ter concluído em termos regulamentares a presidência da concelhia, não está surpreendido pelo avanço de Viegas, mas acusa-o de ter feito “definhar o partido e a sua marca” durante a vintena de anos que esteve à frente das cúpulas concelhia e distrital do CDS-PP. “São dois anos de trabalho, onde mais de 80% dos candidatos autárquicos foram pessoas novas, militantes que se tinham afastado e independentes que acreditam nesta estratégia de renovação em prol do concelho e da região e não em poder, lugares ou privilégios”, atira o dirigente centrista.
Regresso da luta antiga pelo poder na distrital
Quem vê o regresso de João Viegas como um sinal de que a candidatura à concelhia sadina “é uma estratégia nacional (Viegas apoia Nuno Melo à presidência do CDS) e de ataque à distrital”, é João Merino, atual líder da distrital centrista. Merino refuta todas as acusações relativas aos resultados das autárquicas e afirma que “o partido até cresceu em número de votos na região”. “Não houve nenhuma hecatombe, passámos de 21.687 votos em 2017 para 23.282 em 2021. Claro que não ficámos satisfeitos, esperávamos melhor resultado, mas temos que atender a todas as circunstâncias que rodearam esta eleição”, explica ao Semmais.
Para João Merino, que apoia a recandidatura de Francisco dos Santos (Chicão) à liderança do partido, “nestes dois últimos anos andámos a arrumar uma casa que foi caindo aos poucos nos últimos vinte, sob a liderança destes dirigentes”, diz. E acrescenta: “Já afirmei nos órgãos nacionais que este CDS antigo está só preocupado com lugares no partido e avenças. E essa é uma grande diferença da nossa estratégia que passa por atrair novos militantes, modernizar as plataformas sociais, desenvolver o partido no distrito e potenciá-lo para a vida das pessoas”.
Por outro lado, acusa Merino, “desde que fomos eleitos tem havido um constante clima de guerrilha, quezílias e boicotes preconizado por esses antigos dirigentes”. Além de que João Viegas, afirma, “não é mais que uma ponta de lança” no distrito no contexto do congresso nacional para que o CDS-PP volte atrás. “O que estamos a assistir a nível nacional é uma estratégia terrorista de notáveis do partido que recusam a aceitar a vitória do atual líder nacional”.
Recorde-se ainda que no último congresso distrital João Viegas declinou, à última hora, candidatar-se, deixando espaço livre para a vitória de João Merino. Mas para o próximo diz “estar tudo em aberto”. “Não sei se serei candidato, mas certamente apoiarei uma alternativa à atual liderança”, confirmou ao nosso jornal João Viegas.
Substituição de ‘senador’ também gera diferendo
Este combate, aliás, já teve um outro diferendo, já que a atual distrital não reconduziu Abel Castiço Pedroso como representante da distrital no Conselho de Senadores a nível nacional. A escolha recaiu sobre Luís Sobral, um dos militantes mais antigos, que se tinha afastado do partido, e que foi também líder da JC no distrito e primeiro autarca eleito do CDS, aos 18 anos de idade, como membro da AM de Setúbal no tempo da AD. João Viegas critica a substituição “de um militante com provas dadas e grande prestígio”, enquanto que João Merino, afirma que “a escolha de Luís Sobral foi a melhor e reflete o sentido de trabalho” que a atual distrital definiu em termos estratégicos.