Ilegal de Setúbal quer ‘percorrer’ todo o país

Nascem numa oficina alugada à beira Sado. As Ilegal são motos concebidas e construídas em Setúbal. Uma produção nacional de quadros que suportam motores Harley Davidson. O sonho de três amigos que se juntam nas folgas e à noite.

Chama-se Ilegal, é de Setúbal e é também uma das principais atrações da indústria motociclista nacional. Trata-se de uma moto única, uma vez que o quadro é totalmente fabricado no país e incorpora motores Harley Davidson. O primeiro exemplar foi construído há cerca de três anos e, se a pandemia não voltar a travar os sonhos, muitas outros veículos de duas rodas quase 100 por cento nacionais irão ser pensados, construídos e montados na oficina setubalense onde diariamente, um grupo de amigos, já depois de largarem o trabalho ou durante as folgas, dão asas à imaginação.

António Mendes é um dos rostos do projeto. Juntamente com João Frazão e, mais tarde, Nuno Santos, pensou a Blue River Chopper, o nome da empresa que acabou por começar a fabricar as Ilegal. “O nome é uma espécie de trocadilho e que tem a ver com as dificuldades por que tivemos de passar até conseguirmos legalizar as motos”, explicou ao Semmais.

“O que construímos são os quadros. Os clientes apresentam-nos o motor, que tem de estar legalizado no país, e nós construímos o quadro, o qual obedece a uma enorme gama de requisitos legais. É necessário fazer testes de estrada, relatórios de segurança, obter garantias de soldadura, testes de travagem, etc. Afinal, trata-se de construir um veículo feito para circular e a segurança rodoviária é fundamental. Não basta soldar um quadro. É preciso saber se o mesmo é bom até se obter o certificado do Instituto de Mobilidade Terrestre”, explica António Mendes, que atualmente trabalha numa empresa de produtos químicos mas que, em 2016, quando a ideia de conceber o veículo começou a germinar, estudava Engenharia Mecânica no politécnico da cidade.

Com o apoio de João Frazão, colega na fábrica de químicos, António Mendes avançou, ainda em 2017, para a participação no Poliempreende, concurso que juntou mais de 460 projetos apresentados por representantes de 19 politécnicos nacionais. O êxito foi imediato e, um ano depois, a marca estava oficialmente registada.

 

Meio ano de trabalho até ficar pronta a circular

Uma Ilegal, que se apresenta nas versões Little Devil, Kamikase e Little Bastard, nunca demora menos de seis meses a ficar apta a circular. No final o preço pode ser uma incógnita, “talvez um pouco acima do que seria praticado caso exista produção continua numa fábrica”. É que não há produção em série, sendo que cada veículo corresponde a um vasto conjunto de ideias de quem o encomenda.

“Até hoje já fizemos quatro motos”, explica António Mendes, referindo que os clientes são, até agora, de Setúbal, Lisboa e Torres Novas. “Quem nos encomenda um trabalho pede, por norma, equipamentos específicos e isso tem custos acrescidos”, explica.

A construção de cada moto, feita pelos três empresários que contam ainda com a ajuda de alguns amigos especializados em determinadas funções decorre, quase sempre, em horário pós-laboral. “É à noite, depois de sairmos do trabalho, ou durante as folgas. Por vezes não almoçamos nem jantamos em casa”, diz António Mendes que acalenta o sonho, após diversos prémios já obtidos em concursos nacionais e no estrangeiro, de brevemente poder vir a lançar novos projetos de motociclos. “Com a pandemia o negócio esteve um pouco mais parado, mas agora existe a possibilidade de continuarmos a construir mais motos (cujos motores podem ir até aos 1200 centímetros cúbicos) e a desenvolver novas ideias”.

Lucros? Até hoje, segundo refere ainda o empresário, “é mais amor à camisola do que outra coisa qualquer”.