Empresários de Setúbal apostam na construção de garrafeiras de luxo

Analisa-se o perfil do cliente, família e amigos. Estudam-se fatores como a humidade, a luz e a temperatura. Escolhem-se vinhos ao sabor do gosto pessoal e da disponibilidade financeira. Estes são os ingredientes para um negócio que progride.

Construir adegas personalizadas e enchê-las com alguns dos vinhos mais representativos das melhores regiões produtoras do mundo é o grande desafio da construtora setubalense Interseta, da consultora Martins Wine Advisor e também da Flats&House, outra empresa de Setúbal que se dedica ao design. Um negócio que em Portugal existe há cerca de um ano, mas que está em franca progressão e que atualmente pode facilmente gerar proventos superiores a meio milhão de euros.

O CEO da Martins Wine Advisor, Cláudio Martins, explica que este é um negócio que, por norma, começa a ganhar contornos à mesa, diante de um bom vinho e ao sabor de uma conversa franca, onde cada interessado expõe os gostos pessoais e, naturalmente, a sua disponibilidade financeira. “Tentamos perceber o que é que cada pessoa necessita. Há clientes que valorizam mostrar o que têm, seja em termos de obra, seja em relação à qualidade dos vinhos. Outros, por sua vez, dão primazia ao consumo”, explicou ao Semmais.

Mas, antes de os clientes chegarem à consultora (formada em Londres, em 2014) já houve uma primeira abordagem, para que a adega desejada seja construída de raiz. Essa é uma tarefa da Interseta, a empresa setubalense de José Rodrigues, que há cerca de 17 anos efetua trabalhos de referência, seja para bancos, empresas ou restaurantes e que, após solicitação de um cliente norte-americano residente em Lisboa, decidiu aceitar o desafio de lhe construir uma adega de luxo. Ao mesmo tempo que a Interseta constrói, há também o trabalho dos profissionais da Flats&Houses que, habituados a fazer a reabilitação de antigas casas de pescadores em Setúbal, são agora peça importante no design dos espaços.

 

Da localização aos materiais, tudo é analisado ao detalhe

Este tipo de obra não é fácil de concretizar, dizem os empresários, uma vez que são diversos os aspetos a ter em conta. A localização e a escolha dos materiais são, por exemplo, apenas alguns de um conjunto vasto de itens estudados ao pormenor. Para que uma adega reúna as melhores condições para acolher vinhos que facilmente podem chegar a muitos milhares de euros, é necessário que a sua guarda seja perfeita, e isso implica que, por exemplo, sejam estudados pormenores como a incidência da luz, a temperatura ou a humidade. “É uma tarefa muito delicada”, refere Cláudio Martins, salientando que “um grande vinho requer uma boa adega”.

“Este negócio pode chegar este ano aos 500 ou 600 mil euros, mas o objetivo para 2022 é triplicar a receita”, adianta o responsável da Martins Wine Advisor, salientando que vinhos afamados provenientes de regiões como Napa Valley, Toscana, Bordéus, Champagne e Priorat, ou países como a Geórgia (Cachétia), mas também os dos Açores, do Porto ou da Madeira, são essenciais para se ter uma garrafeira de qualidade.

“Ao contrário do que se pode pensar, uma boa garrafeira (cuja obra pode variar entre as dezenas ou centenas de milhares de euros) não é apenas para quem tem muita disponibilidade financeira”, revela o homem responsável por já ter feito as escolhas para mais de 40 adegas, entre elas uma em Moscovo, na Rússia, com a dimensão de um campo de futebol e capacidade para 10.000 garrafas de bebidas espirituosas. Com cerca de 5.000 euros é possível comprar algumas garrafas de regiões representativas e de qualidade.