Há dez pessoas que permanecem internadas no distrito apenas por carências financeiras

Metade das pessoas referenciadas encontram-se no Hospital Garcia de Orta, em Almada. A maior parte dos casos devem-se a falta de enquadramento familiar e aos baixos recursos financeiros.

Até ao início de dezembro (dia 3) contavam-se apenas dez pessoas que permaneciam internadas nos hospitais do distrito de Setúbal sem que existissem motivos clínicos que o justificassem. De acordo com os dados dos serviços sociais, cinco dessas pessoas estavam no Hospital Garcia de Orta, no concelho de Almada, que é também aquele que tem maior número de residentes.

“A palavra abandonado não é a mais correta para descrever este tipo de situações. Muitas vezes as pessoas que são sinalizadas pelos serviços hospitalares e sociais não foram abandonadas por ninguém. Podem permanecer nos hospitais onde a determinada altura deram entrada com algum problema de saúde sem que isso signifique que os familiares se tenham pretendido desfazer deles”, explicou uma fonte conhecedora dos processos.

Conforme foi adiantado ao Semmais, “cada caso é um caso”. “Depois de sinalizadas pelas unidades hospitalares, estas ocorrências merecem todo o cuidado por parte dos técnicos da Segurança Social. Por vez descobre-se que não existe enquadramento familiar que permita receber as pessoas que ainda permanecem nos hospitais mesmo sem motivo de saúde aparente. Mas também é muito frequente encontrarem-se casos em que a situação socioeconómica não permite outras soluções porque, existem de facto famílias com baixos recursos financeiros”, adiantou a mesma responsável contactada e que solicitou anonimato.

 

Segurança Social tenta encaminhar utentes para as IPSS

Nos casos em que comprovadamente as famílias não possuem meios para acolher as pessoas deixadas nos hospitais, acaba por ser a Segurança Social que entra em ação para tentar solucionar os problemas. “A primeira ideia é sempre encaminhar essas pessoas para lares das redes solidárias, as IPSS. Só no caso de não ser possível colocar as pessoas nesses mesmos estabelecimentos é que se recorre aos lares lucrativos. Esta é, no entanto, uma situação que não é muito comum, até porque o valor mensal cobrado nessas instituições ronda, em média, os 1.300 euros, sendo que essa importância, por se tratarem de pessoas sem rendimentos e cujas famílias também não têm meios, acabam por ser pagos pelo Estado, pela Segurança Social. Seria, pois, quase insustentável”, afirmou a mesma fonte, lembrando que no distrito de Setúbal os casos referenciados aumentam, por norma, durante o mês de janeiro, enquanto que a nível nacional começam a ser detetados em novembro.

Ao todo estão nesta situação de internamento não justificado por motivos de saúde comprovados clinicamente, e contabilizados até ao início de dezembro, 203 pessoas.