Fábrica de lítio no parque Sapec não apresenta agravamentos ambientais

Especialista de prevenção ambiental aprova construção, até 2025, de fábrica de transformação de lítio no Parque Industrial Sapec. Empresa abre portas às energias renováveis e a negócios com África e América do Sul.

A escolha de Setúbal como local para instalação de uma futura fábrica de conversão de lítio foi anunciada na semana passada e acolhida com entusiasmo por parte das entidades camarárias, que consideram relevante o investimento de 700 milhões de euros e a criação, entre postos diretos e indiretos, de mais cerca de 3.000 novos empregos. Não há, dizem os especialistas ambientais, uma pegada ecológica que venha agravar alguns dos problemas existentes e já referenciados, subsistindo até a possibilidade de esta se tornar uma possibilidade de aumentar, a nível internacional, a importância do porto da cidade.

“Do ponto de vista ambiental é evidente que fica sempre uma marca quando se têm as minas no Norte e se vai instalar a unidade industrial a Sul. No entanto, é preciso ter em conta que o fabrico de baterias de lítio pode contribuir decisivamente para reduzir o consumo de combustíveis fósseis, substituindo-os por renováveis, e eu defendo tudo o que vá nesse sentido”, explicou ao Semmais o presidente da Associação Portuguesa de Prevenção e Inspeção Ambiental, João Gonçalves.

O mesmo responsável lembrou depois que a instalação da unidade industrial, nas antigas instalações da Sapec, “não irá causar maior impacto do que as empresas que já ali se encontram”, afastando desse modo os receios de aumentos exponenciais dos níveis de poluição. Esta posição vem, de resto, ao encontro do que o ex-ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, defendeu quando do licenciamento das explorações de lítio. Nessa ocasião o então governante entendia que poderia ser mais prejudicial em termos ambientais o transporte dos materiais do que a unidade de transformação.

João Gonçalves sublinha, por outro lado, que a fábrica anunciada para Setúbal pode representar uma mais-valia para ao porto local, explicando que o lítio é um minério que não abunda na Europa e que a cidade, através da unidade de transformação visando a fabricação de baterias, pode abrir as portas a inúmeros negócios internacionais. “Na Europa existe lítio em Portugal, em Espanha e na Sérvia. Aquilo que existe não satisfaz, sequer, 30 por cento das necessidades. Mas, se o porto de Setúbal for utilizado para receber embarcações que aqui chegarão com o lítio para ser transformado, então as possibilidades aumentam exponencialmente. Passamos a receber carregamentos do Zimbabué e da América do Sul, nomeadamente da Argentina, Chile, Bolívia e Perú, que são os maiores produtores”, disse.

 

Acessibilidades foram determinantes para escolha

As acessibilidades foram determinantes para que a Galp Energia escolhesse Setúbal como local para instalar a unidade industrial para conversão de lítio. Autoestrada, caminhos de ferro e um porto de mar de grandes dimensões foram os trunfos usados para que a empresa portuguesa, em conjunto com a sueca Northvolt, escolhessem o Parque Industrial Sapec Bay, salientando que é uma zona onde será bem mais fácil ter acesso aos reagentes necessários e proceder à reutilização de sobrantes.

Em comunicado, a Galp Energia refere que a unidade a construir até 2025 e que deverá começar as operações comerciais no ano seguinte, poderá ser responsável pela produção anual de 28.000 a 35.000 toneladas de hidróxido de lítio, material essencial para o fabrico de baterias.

No mesmo documento, a joint venture Aurora, com capitais de 50 por cento detidos pela Galp e a Northvolt, afirma que será utilizada energia verde para alimentar o processo de conversão, situação que permitirá, por exemplo, reduzir os gastos de gás natural.

Andy Brown, CEO da Galp, já disse que este é o tipo de projeto ideal para o desenvolvimento de Portugal, enaltecendo a disponibilidade evidenciada em todo o processo pela câmara de Setúbal. Esta entidade, por sua vez, através do presidente André Martins, destacou a qualidade que a cidade oferece, nomeadamente em relação aos transportes e acessibilidades, como fator decisivo para a qualificação do distrito.