Falta de professores afeta em média cerca de três mil alunos por semana no distrito

Até à última terça-feira, de acordo com os dados do SPGL, a falta de docentes afetava entre 2.500 a 3.000 alunos no distrito. Horários de substituição garantem apenas 400 euros mensais.

O distrito de Setúbal é o segundo em todo o país mais carenciado de professores. As estimativas do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL) apontam para que, por semana, sejam entre 2.000 a 3.000 os alunos que não têm aulas a, pelo menos, uma disciplina.

Em declarações ao Semmais, o representante do SGPL, João Pereira, confirmou que no segundo período do ano letivo (entre janeiro e o início de abril) estiveram a concurso nas diversas escolas da região mais de um milhar de horários, o que se traduz em cerca de 10.000 horas de aulas. “É uma situação grave e que faz com que um grande número de alunos chegue ao final do ano sem ter tido aulas a uma ou mais disciplinas ou, tendo-as, tal aconteceu em número muito reduzido”, afirmou.

Os dados estatísticos (atualizados a cada três dias) referiam que, na terça-feira estavam a concurso, a nível nacional, 286 horários, aos quais correspondiam, 4.105 horas de aulas, 800 turmas e entre 20.000 a 25.000 alunos sem, pelo menos, aulas a uma disciplina. Relativamente ao distrito de Setúbal, que representa 14 por cento dos horários a nível nacional (só Lisboa tem mais carência de docentes) havia, na mesma data, 40 horários para preencher, o que correspondia a 540 horas de aulas e afetava entre 2.500 a 3.000 alunos. Os concelhos mais atingidos eram Setúbal, Moita e Seixal.

O sindicalista adiantou também que as faltas de professores estão generalizadas por todas as disciplinas, mas nota a gravidade de existir uma grande incidência no Português do 3º ciclo, no Inglês e na Matemática. “São disciplinas nucleares e a ausência de aulas terá, certamente, repercussões negativas”, referiu.

Em relação ao distrito, ainda de acordo com João Pereira, a falta de docentes faz-se sentir com maior intensidade nos concelhos mais povoados, nomeadamente Almada, Seixal e Setúbal.

O problema que se vive atualmente pode, diz o mesmo responsável do SPGL, agudizar-se ainda mais a curto prazo, uma vez que muitos professores estão em vias de atingir a idade da reforma: “Esta é uma classe muito envelhecida. Notamos que cada vez são menos os jovens que enveredam pelo ensino. Neste momento, a falta de docentes a nível nacional é uma consequência da grande instabilidade. Em média, um professor demora cerca de 16 anos até conseguir entrar para o quadro. Durante esse tempo é obrigado a saltar de escola para escola, de distrito para distrito, gastando muito mais do que aquilo que acaba por receber”.

 

Já há docentes a recusarem horários completos

João Pereira salienta o facto de o Ministério da Educação estar a tentar solucionar o problema recorrendo aos professores que já se encontram colocados. Essa medida, diz, não será a mais aconselhável, uma vez que, “para além de não suprir todas as carências, acaba também por causar uma grande sobrecarga nestes profissionais. Gasta-se dinheiro em horas extraordinárias, mas não se resolve o problema. Os horários de substituição acabam por ser um grande problema”.

O problema central continua a ser o pagamento de remunerações que, de acordo com os docentes, são bastante insuficientes. “Há muita gente contratada para horários de oito ou nove horas semanais. Essas pessoas acabam, no final de um mês, por ganharem cerca de 400 euros. É uma quantia que, na esmagadora maioria dos casos, nem sequer chega para pagar o aluguer de um quarto. As pessoas que vivem em determinadas áreas, mesmo que estejam a desempenhar outras funções diferentes do ensino, não vão querer correr o risco de irem, às vezes apenas durante um mês, para locais distantes da família e dos amigos para auferirem vencimentos que nem sequer chegam para pagar as despesas. Por vezes surgem situações em que nem sequer é paga a totalidade do subsídio de refeição”, disse.

A exiguidade dos vencimentos faz, por outro lado, com que muitos professores já estejam a recusar colocações em que lhes é garantido o horário completo de 22 horas. “Em Setúbal já temos conhecimento de casos de docentes quer recusam essas colocações. É que o que vão auferir não chega. Assim, o Estado tenta resolver o problema aceitando, cada vez mais, pessoal que não tem as habilitações profissionais. Este pode tornar-se, a curto prazo, outro problema muito grave. Nem todas as pessoas com uma licenciatura podem dar aulas”, esclareceu.