Traços arquitetónicos no Alentejo

O Alentejo florido no mês de maio desafia-nos a calcorrear caminhos na procura dos espaços experienciais que nos fazem sentir vivos no movimento do tempo. A vida é um sopro! Permitam-me a apropriação do nome de um documentário sobre Oscar Niemeyer – “A Vida é Um Sopro”, de Fabiano Maciel (2011).

Não me atrevo a escrever sobre arquitetura, mas tão só sobre a forma como esta me desafia a deslocar no espaço numa relação corporal que enriquece o reportório das minhas memórias sensitivas que se extinguirão na finitude da vida. Pelo contrário, a arquitetura acrescenta uma racionalização ao espaço que perdura no tempo.

É muito interessante ouvir Oscar Niemeyer no documentário sobre a sua vida, nomeadamente naquilo que é o rigor que este arquiteto coloca no seu processo de trabalho que levou a corresponder ao desafio de projetar de raiz a capital de um país à escala do Brasil – Brasília, essa que é cidade que desejo conhecer pela obra desse grande mestre das “frágeis” linhas curvas impostas à floresta.

Também pelo Alentejo “afora” podemos registar várias centralidades arquitetónicas, de traço recente, cuja visão dos promotores e qualidade do traço arquitetónico gera movimento e dinâmica sociocultural, com capacidade de atração para os territórios, também numa dinâmica de desterritorialização, pelo valor universal da obra.

Se, em Évora, a Malagueira do Arquiteto Álvaro Siza Vieira, com toda a sua história e estórias localizadas num tempo que se move entre o passado e o futuro, é um dos exemplos que, com a qualidade do traço arquitetónico “recente”, marcam o Alentejo e geram centralidades… contamos mais! Podemos calcorrear caminhos que nos levam até ao CAS – Centro de Artes de Sines, dos irmãos Aires Mateus, ou numa outra perspetiva que marca a paisagem rural, ao Lagar do Marmelo do arquiteto Bak Gordoon.

Mais perto de mim, como detonante desta crónica, o recente edifício da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do IPBeja, da autoria do Arquiteto Nuno Montenegro que tem justificado a deslocação organizada de estudantes de Arquitetura à cidade de Beja. Da mesma forma, pelas suas qualidades cénicas, tem sido objeto de locações de produções fotográficas e televisivas.

Podemos pensar num conjunto de outros exemplos que marcam a paisagem com traços de autor que perdurarão na horizontalidade da planície, fruto da visão de longo prazo dos promotores públicos ou privados. Geram centralidades, geram movimento e produzem cultura.

Aldo Passarinho
Professor Instituto Politécnico de Beja