Escrevo este texto num dos muitos dias com temperatura do ar bem acima do normal para a época, com que a meteorologia nos tem vindo a brindar este Verão, agravando a seca, incendiando os campos, acalorando os corpos e tornando cada vez mais difícil a tarefa de manter a cabeça fria perante as dificuldades que o vírus, a guerra e o clima teimam em agravar, sobretudo para os mais vulneráveis e desprotegidos.
A cabeça fria de cada um de nós e a cabeça fria de quem nos diversos patamares da sociedade toma decisões para precaver ou mitigar os danos é fundamental. Todos sabemos que em tempos difíceis as redes de apoio são fundamentais, sejam redes familiares, de amigos, da comunidade, de associações ou instituições sociais, de empresas, autarquias, serviços regionais ou da administração central.
Os últimos dois anos tornaram também mais evidente a consciência de que algumas ameaças só podem ter resposta com a cooperação solidária de todos os países europeus, como foi o caso da resposta à pandemia, à guerra, aos ataques cibernéticos ou à escassez localizada de bens e serviços essenciais. O exemplo europeu, longe de ser perfeito, deveria, no entanto, inspirar os povos para enveredarem por respostas multilaterais aos desafios com que se confrontam em vez de se deixarem fragmentar para depois serem mais facilmente arrebanhados pelos dois blocos antagónicos em formação.
Questão mais difícil é como manter a cabeça fria nestes tempos de labaredas em sentido literal e também em sentido figurado. Enviar a cabeça num balde de gelo não é solução sustentável. A que recomendo, é tentar nunca perder o propósito e o sentido dos objetivos que queremos preservar. O que queremos para o mundo, para a Europa, para Portugal, para o Alentejo, para a nossa terra, para nós e para os nossos mais próximos.
Sinto em particular que na nossa região e no nosso País há um frenesi de recomeço, com muitas perspetivas de novos investimentos e oportunidades, mas que soçobram na sua divulgação e conhecimento, perante a avalanche de relatos do quotidiano feitos sem outro fio condutor do que a pressão emocional do imediato. Esta avalanche é inevitável. O que não é inevitável é desistir de olhar em frente e dar corpo aos muitos projetos de modernização e desenvolvimento que estão em carteira e que temos que que colocar no terreno. Com cabeça fria, porque depois de dias vem dias e esses dias que virão têm que nos encontrar preparados para vencer, num mundo cada vez mais difícil e competitivo. Sem Mais
Carlos Zorrinho
Eurodeputado PS