Pequena crónica do desencontro

Como introito a mais uma participação na Revista Semmais, de dedicação exclusiva e distribuída no nosso Alentejo, dou por mim a pensar que, dada a natureza destes apontamentos, é crível que haja alguma repetição. Coisa inevitável quando se pretende associar um poema e, como se sabe é, antes demais, a expressão de sentimentos do poeta. E, naturalmente, de uma ou outra forma, os sentimentos repetem-se.

Por outro lado, dada a disponibilidade de espaço nesta página, a escolha recai num poema com a dimensão gráfica adequada.

O tema de hoje tem a ver com a construção de uma relação em que, como é natural, se põe expectativa e entusiasmo. Toda uma luz que nos ilumina o rosto e as mãos que se abrem dispostas a calcorrear o sonho de caminhos por desvendar. Mas, como muito na vida, antecipa-se a encruzilhada, as dificuldades e a negra dúvida acrescenta o receio, esvaziando um coração disposto a amar. Por fim, chega o desalento e a desilusão. A penumbra toma conta dos dias e perdidos, pensamos já não ter caminho por onde caminhar.

Em resultado fica-nos a questão: quantos de nós já não vivemos situações destas? Vivências, algumas delas muito profundas e deixando marcas indeléveis. Mas que, acima de tudo, apesar de não ser explícito neste poema, é vontade do poeta fazer o apelo para a esperança em dias melhores, não esmorecendo na construção de novas relações. Porfiar no sonho, procurar a luz e acreditar nas pessoas, porque já nos basta a negrura dos dias dos tempos que correm.

 

Era a luz que trazia,

Mãos abertas,

Todos os caminhos

Por desvendar.

 

Cedo a negra dúvida,

O receio,

A encruzilhada

Se fez acrescentar.

 

Assim nos perdemos

Na penumbra dos dias,

Na incerteza de um caminho

Por onde caminhar.

(Inédito)

José António Contradanças
Economista / Gestor