O distrito continua pujante e diversificado nas atividades industriais, apesar de a maior parte dos valores das exportações serem da responsabilidade de duas empresas: Autoeuropa e Navigator. Diminuição acentuada do número de trabalhadores não é consequência de despedimentos coletivos.
O ano de 2021 fica assinalado por uma recuperação económica das empresas sediadas no distrito de Setúbal. Uma recuperação, tendo em vista o leque das 200 empresas mais influentes, que apresenta valores vultuosos relativos às exportações (mais de seis mil milhões de euros) só no que respeita às dez primeiras classificadas na tabela oficial. As estatísticas mostram também um acentuado decréscimo no número de trabalhadores. Esta é, de resto, uma preocupação crescente e que já não assenta apenas na falta de mão de obra qualificada. Trata-se, dizem, os analistas, de uma consequência do envelhecimento demográfico.
Quase todas as empresas que não se encontram no top 10 apresentam valores positivos decorrentes das exportações muito mais elevados. Numa listagem de 1.000 empresas, tendo em conta o volume das exportações nos dois últimos anos e também o número de trabalhadores, constata-se que existe uma acentuada recuperação financeira em muitas delas, mas ainda assim com valores que muitas vezes não chegam aos 100 mil euros.
No topo desta classificação anual mantém-se a ‘gigante’ Autoeuropa, fabricante de veículos automóveis, cujas vendas para o exterior representaram no ano passado mais de 2.982 mil milhões de euros. Este valor, que corresponde a um aumento de 17,12 por cento face a 2020 é, de resto, mais do dobro do que o que foi obtido pela segunda classificada, a Navigator, empresa que apresenta vendas para o mercado internacional num total superior a 1.319 mil milhões de euros, o que corresponde a um acréscimo de 14,98 por cento face ao ano anterior.
O pódio é encerrado pela Repsol, empresa que apesar de apresentar valores relativos a exportações de ‘apenas’ 790 mil milhões, revela um crescimento neste item de 81,56 por cento quando comparados os proveitos com os obtidos em 2020.
Outro aspeto que salta à vista quando se analisam os valores das dez primeiras empresas é que apenas uma delas, a Lisnave, efetuou vendas para o estrangeiro (84.090 milhões) inferiores às do ano transato. Esta empresa registou um de- créscimo de 4,30 pontos percentuais. Este desempenho, de acordo com o que foi explicado ao Semmais por fonte conhecedora do processo e que solicitou o anonimato, será consequência da quebra mundial no setor da construção e reparação de embarcações, a qual será resultante da pandemia de Covid-19.
Navigator destaca-se no total ativo líquido do ano
Quando se passa da análise dos valores das exportações para os resultados do total ativo líquido do ano, verifica-se que é a Navigator quem surge destacada, contabilizando mais de 3.171 milhões de euros. Esta mesma empresa, de acordo com os dados oficiais, tem de capitais próprios 1.044 mil milhões de euros, o que é mais do triplo do que, por exemplo, a Autoeuropa.
Os dados de 2021 mostram ainda que existe uma grande diversidade quanto ao setor de atividade de cada uma das dez primeiras empresas do distrito. Há desde a fabricação de automóveis (Autoeuropa) e o comércio por grosso (Navigator), à fabricação de matérias plásticas sob formas primárias (Repsol) e à fabricação de produtos químicos orgânicos de base (Indorama Ventures Portugal). Na lista surgem ainda a fabricação de fibras sintéticas ou artificiais (SGL Composites), atividades auxiliares dos transportes por água (PSA-Sines – Terminais de Contentores), siderurgia e fabricação de ferros-liga (Lusosider – Aços Planos), comércio por grosso de minérios e metais (Lusosider – Projetos Siderúrgicos), reparação e manutenção de embarcações (Lisnave – Estaleiros Navais) e fabricação de cimento (Secil – Companhia Geral de Cal e Cimento).
Embora sem confirmação oficial por parte das empresas contactadas (que não responderam atempadamente às questões colocadas pelo Semmais), a quase totalidade das 20 empresas colocadas nos primeiros lugares (a lista inclui 1.000) aumentaram em 2021 o valor das suas exportações face ao ano anterior. Esta deverá ser uma tendência que se repete no ano em curso e que, de algum modo, servirá para colmatar as eventuais quebras no mercado interno.
Os aumentos dos custos com matéria-prima, combustíveis e eletricidade explicam as diminuições de receitas no mercado nacional. “Existe uma clara retração económica no país. A generalidade das pessoas e das empresas não possuem meios para fazer face aos constantes aumentos.
O que se recuperou em 2021, depois do abrandamento do receio causado pela pandemia, pode perder-se em 2022 e 2023 devido ao aumento da inflação. Isso nota-se na maior parte das empresas, onde os materiais não chegam a tempo. Há atrasos na produção”, explicou, pedindo para não ser identificado, um operário de uma das empresas que estão no topo da lista.