O presidente da Cáritas Diocesana de Beja disse que a exploração de migrantes no distrito não tem fim à vista e que não ficou surpreendido com a operação policial que resultou na detenção de 35 suspeitos
“Os problemas são muitos e vão continuar a crescer. Não há um fim à vista”, assumiu Isaurindo Oliveira, em declarações à agência Lusa.
Segundo este responsável, “Alqueva continua a crescer” e as culturas agrícolas onde estes migrantes trabalham são “altamente exigentes de mão-de-obra” que “não existe” em Portugal e, por isso, “tem de vir de fora”, mas as pessoas “têm de ser tratadas com um mínimo de decência”, só que “não são”.
Apesar de assumir que “torna-se difícil de controlar” a chegada destes migrantes, Isaurindo Oliveira notou que deveria haver “a hipótese de controlar os contratos de trabalho” destes trabalhadores, “que estão na mão de meia dúzia de pessoas” e constituem “um negócio”.
“No outro dia, aparecia-nos aqui um migrante com um recibo de salário de 100 euros. Para preencher uma manifestação de interesse, que se preenche de borla na internet, cobravam-lhe 300 euros. Para ser testemunha nas Finanças, para terem o NIF, era mais 50 euros cada testemunha. Ou seja, isto é um negócio para um conjunto de pessoas”, denunciou.
E o concelho de Cuba (Beja), onde foi hoje executada grande parte dos 65 mandados de busca e detidos 35 suspeitos da prática de crimes de associação criminosa, tráfico de pessoas, branqueamento de capitais e falsificação de documentos “até não é das situações mais complicadas” no distrito, argumentou.
“Estamos a assistir a uma subida exponencial de sem-abrigo em Beja e a maioria são migrantes. Tinham passado pela Cáritas 88 pessoas em 2020, neste momento já atendemos 270 [pessoas em 2022], dos quais dois terços são migrantes”, quantificou o presidente da instituição.
Trata-se, de resto, de um problema que “toda a gente sabe”, pois “está à vista das pessoas” nas ruas da cidade, mas para o qual a própria Cáritas não tem resposta.
“A maioria destas pessoas tem falta de alojamento. Estão no parque de estacionamento a dormir, encostados a um sítio qualquer, caídos num banco e não temos alojamento. E não temos alimentação, porque não vamos dar a estas pessoas um pacote de arroz. Eles não têm onde o fazer. A cantina, o refeitório, são respostas alimentares que estão esgotadas, portanto, precisamos de auxílio”, apelou Isaurindo Oliveira.
A PJ deteve hoje 35 pessoas pertencentes a uma rede criminosa que contratava trabalhadores estrangeiros para a agricultura no Baixo Alentejo, revelou uma fonte policial à agência Lusa.
Segundo a mesma fonte, esta rede era formada por estrangeiros, nomeadamente famílias romenas, e alguns portugueses que lhes davam apoio.
“As várias dezenas de vítimas de nacionalidades romena, moldova, marroquina, paquistanesa e senegalesa eram contratadas para explorações agrícolas em Beja, Cuba e Ferreira do Alentejo entre outros locais”, avançou a fonte.
Mais tarde, em comunicado, a PJ indicou que os 35 detidos estão “fortemente indiciados” pela prática de crimes de associação criminosa, tráfico de pessoas, branqueamento de capitais e falsificação de documentos, entre outros crimes.
A operação envolveu “cerca de 400 operacionais [da PJ], em várias cidades e freguesias da região do Baixo Alentejo”, que procederam “ao cumprimento de 65 mandados de busca domiciliária e não domiciliária e à detenção, fora de flagrante delito, de 35 homens e mulheres”.