A associação ambientalista Quercus manifestou a sua preocupação com as dimensões de um projeto agroflorestal previsto para a Herdade da Batalha, em Alcácer do Sal, alertando para o aumento das ameaças e destruição da floresta autóctone.
Em comunicado enviado à agência Lusa, a Quercus revelou que o projeto agroflorestal da Herdade da Batalha, em Alcácer do Sal, cuja consulta pública do estudo de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) já terminou, tem uma “dimensão preocupante”.
Em causa, indicou, está uma área de intervenção de cerca de 615 hectares “integralmente na Zona Especial de Conservação (ZEC) Comporta-Galé, da Rede Natura 2000”.
Segundo a associação, este “alegado projeto agroflorestal não é mais do que uma agroindústria a céu aberto, com impactes elevadíssimos sobre a floresta”.
O projeto prevê a criação de uma área agrícola para produção de tangerinas que terão como destino um centro de distribuição em Valência (Espanha) para embalamento, distribuição e comercialização, pode ler-se na documentação sobre a Herdade da Batalha disponível na página de Internet do portal Participa, consultado pela Lusa.
No documento é referido que o promotor do projeto, a empresa Azul Empírico, do grupo Aquaterra, prevê investir 45 milhões de euros para a plantação de tangerinas numa área de 543,95 hectares e na instalação das estruturas e infraestruturas de apoio em 71,25 hectares de terreno.
Segundo os ambientalistas, a área agrícola será implantada num território “dominado [por] pinhal-manso autóctone com interesse na produção de pinhão e uma grande diversidade de habitats”, que poderá ser “convertido” caso seja aprovado pelo Governo.
O projeto prevê igualmente a realização de um total de “26 furos de captação de água para rega, a preparação do solo (desmatação, gradagem, limpeza de material lenhoso, lavoura e correção do solo) numa área total de cerca de 543,95 hectares”.
“O consumo de água do aquífero é enorme, cerca de 3,57 milhões de metros cúbicos, o que vai comprometer outras captações, incluindo a disponibilidade para consumo público entre Alcácer do Sal e Grândola, assim como favorecer a intrusão salina com a degradação do aquífero”, argumentaram os ambientalistas.
No Dia da Floresta Autóctone, que se assinalou ontem, a Quercus apelou ao Governo para “não aprovar este e outros projetos insustentáveis”, sublinhando que contribuem para a “destruição” das áreas florestais.
No mesmo comunicado, a associação manifestou-se também contra o recente abate de cerca de 300 sobreiros no monte de Santa Catarina, em Vila Nova de Famalicão, no âmbito do projeto de instalação de uma central fotovoltaica, em 80 hectares de espaço florestal, “sem que tenha sido sujeito” a AIA.
E defendeu “a aposta na produção descentralizada, nomeadamente o autoconsumo”.