Zonas de retenção e valas de drenagem, para além de espaços verdes e proibição de edificar em locais de cheia, fazem com que o Montijo esteja a passar quase incólume aos rigores atmosféricos dos últimos dias.
No meio do caos causado pelas inundações em quase todo o distrito, há um concelho que, até ao momento, tem passado quase incólume. No Montijo, zona que tem o Rio Tejo aos pés e que, teoricamente, é das mais suscetíveis de ser afetada pelos fenómenos atmosféricos, não há registo de ruas inundadas nem danos astronómicos. Esta situação deve-se, de acordo com os seus autarcas, ao trabalho preventivo desenvolvido ao longo dos últimos 25 anos. Nem áreas tradicionalmente problemáticas, como o centro histórico ou o bairro dos pescadores, estão a sofrer o flagelo das intempéries.
“O Montijo precaveu-se durante os últimos 25 anos. Foram tomadas estruturais que hoje nos permitem ter algum sossego quando o momento é de alerta”, começou por dizer ao Semmais o presidente do município, Nuno Canta. “Os dois pontos essenciais são a construção de bacias de retenção e valas de drenagem, assim como a proibição de construção em leito de cheia”, sintetizou.
Nuno Canta entende que a zona histórica da cidade e o bairro dos pescadores, ambos com o Tejo aos pés, estão de momento fora de perigo e sem grande risco de virem a ser seriamente inundadas porque “entre outros trabalhos, se construiu uma bacia de retenção de águas para evitar as cheias urbanas”. “Trata-se de uma obra realizada em 2009 e que ocupa uma área com cerca de um hectare. Foi uma obra essencial e que custou cerca de nove milhões de euros, com financiamento comunitário”, acrescentou.
A par dessa obra que está a manter quase a seco a parte mais antiga da cidade, existem outros trabalhos que o autarca montijense salienta e que, no seu ponto de vista, têm sido fundamentais. “Nunca existe uma solução única, porque é necessário fazer sempre diversas outras intervenções, sejam de maior ou menor dimensão. Assim, para além da bacia de retenção, também se realizaram trabalhos para separar os esgotos domésticos dos pluviais. Esse é um aspeto muito importante, mesmo que muitas pessoas não lhes atribuam especial significado. Os esgotos, por exemplo, têm um sistema de drenagem que incorpora válvulas de não retorno. Isso impede que as águas do rio, quando a maré está cheia, não invadam os esgotos da cidade, provocando inundações”.
Acabaram-se as construções em leito de cheia
A proibição de construir em leito de cheia foi, segundo Nuno Canta, outro dos aspetos fundamentais para proteger a cidade. O autarca entende que com essa decisão, a par da abertura de valas de drenagem e escoamento, foi possível manter incólumes terrenos que agora absorvem a água e que, de outro modo, se teriam tornado em extensas zonas impermeabilizadas e que potenciariam enxurradas e aluimentos.
“Este processo foi complicado., Houve duas situações em que a Câmara Municipal teve de recorrer ao tribunais. O primeiro diz respeito ao local onde hoje existe o Jardim da Mundet (antiga corticeira) e o segundo diz respeito ao sítio onde hoje existe a Casa da Música Jorge Peixinho. Ao travar a construção imobiliária nesses locais, a câmara construiu corredores verdes e evitou potenciais cheias”, disse o edil.
Para Nuno Canta os bairros novos do Montijo podem ser apontados como um exemplo de boas práticas ambientais e, afirma, “é também por isso que a cidade tem sido das mais procuradas e das que mais se tem desenvolvido em todo o país”. “Temos uma política urbanística que, entre outras coisas, prevê a construção de vários espaços verdes. Essas zonas, como agora se comprova, são essenciais para que o aglomerado urbano sobreviva sem problemas às intempéries”.
“Existe em Portugal um problema estrutural, que é o ordenamento das cidades. O mesmo pode ser muito benéfico ou muito prejudicial, consoante se opte por fazer algo que beneficie toda a comunidade ou, em contrário, seja apenas benéfico para alguns. No Montijo, mercê de uma política rigorosa de licenciamento camarário, planeamento e ordenamento urbanístico, estamos a colher bons resultados. As nossas áreas verdes, por exemplo, aumentaram quatro vezes e são hoje parte integrante de um sistema que impede cheias ou a escorrência descontroladas das águas”., acrescentou.
“Quando existem zonas de retenção e valas de escoamento, está andada metade do caminho para prevenir alguns acidentes naturais, como sejam as cheias”, concluiu Nuno Canta.
Pista da BA6 mantém-se a seco
A pista da Base Aérea número 6, no Montijo, mantém-se a seco e totalmente operacional, mau grado a grande precipitação ocorrida na última semana e que tem causado inundações em muitas zonas do distrito de Setúbal. “O Montijo, assim como diversas outras cidades do distrito, nomeadamente o Barreiro, a Moita ou o Seixal, está elevado em relação à linha de água do Tejo em 30 a 50 centímetros. O mesmo acontece, de resto, com o Terreiro do Paço, em Lisboa.
A pista da base aérea, por sua vez, está cinco metros acima dessa mesma linha de água, pelo que não é admissível que possa ser inundada”, diz Nuno Canta. A eventual inundação da pista tem sido um dos argumentos de algumas entidades que se opõem à construção, naquele local, do aeroporto complementar ao da Portela, em Lisboa. De acordo com o autarca do Montijo, “como está à vista, não parece que seja uma justificação válida”.