Delinquência juvenil é particularmente sentida nos concelhos de Almada, Barreiro, Seixal e Setúbal. Há jovens que integram vários grupos em simultâneo. Há aluguer de armas para a prática de crimes e de carrinhas para transportar gatunos por diversas regiões.
Um relatório recente da Comissão de Análise Integrada da Delinquência e da Criminalidade Violenta (CAIDCV), grupo que estuda a criminalidade juvenil, voltou a confirmar o distrito de Setúbal como um dos três mais problemáticos a nível nacional. Dados policiais revelados ao Semmais referem que na região, em apenas quatro dos seus concelhos, estão referenciados dez dos mais perigosos bairros de todo o país. O número de integrantes dos gangues é indeterminado, uma vez que a tendência atual é a de um mesmo jovem poder fazer parte, em simultâneo, vários grupos, mesmo que geograficamente distantes.
“Nota-se que existe uma grande mobilidade de muitos dos membros dos gangs. Num momento estão no Barreiro, como uma hora depois já estão em Lisboa ou em Loures. Já tem acontecido serem identificados alguns que cometem crimes na companhia de elementos diferentes. Essa mobilidade também não permite que os inquéritos decorram com a celeridade desejada”, explicou fonte policial.
Especificando a realidade da região de Setúbal, a mesma fonte deu conta de que os problemas de maior criminalidade juvenil ocorrem, maioritariamente, nos concelhos de Almada, Seixal, Barreiro e Setúbal. “São as zonas com mais população e, também, com maior número de bairros sociais. Almada, Seixal e Barreiro são também locais muito próximos de Lisboa. Há possibilidade de deslocações rápidas e é frequente serem identificados numa margem do rio rapazes que vivem do outro lado. Mas também há situações de guerras entre grupos, que nem sempre se deve ao tráfico de droga”, disse.
Há já raparigas a serem recrutadas para os gangues
Por bairros tidos como mais problemáticos, as autoridades policias apontam no concelho de Almada o Pica Pau Amarelo, o Bairro do Campo da Bola, o Bairro Branco e o 2o Torrão (na Trafaria e em fase de desmantelamento). No Seixal as maiores preocupações centram-se no Bairro da Jamaica (onde também já decorre a fase de realojamento de grande parte da população) e na Quinta da Princesa. No Barreiro destacam-se a Quinta da Mina e a Cidade do Sol, enquanto em Setúbal, o principal destaque negativo é, uma vez mais, para o Bairro da Bela Vista.
“São sítios muito populosos e com uma população específica e muito problemática. Muitos desses jovens não estudam nem trabalham. Alguns têm acesso a armas de fogo que vão sendo alugadas sempre que um grupo pretende fazer um assalto. O pagamento, normalmente, é uma percentagem do produto do roubo. Apesar de a maior parte serem rapazes, há também muitas raparigas referenciadas na prática de furtos. Nos bairros do distrito de Setúbal, assim como acontece em Lisboa, há raparigas que são recrutadas para irem roubar para centros comerciais no Porto ou no Algarve. Chegam a viajar em carrinhas alugadas para o efeito”, adianta ainda a mesma fonte.
Os levantamentos policiais e judiciais apontam para a existência, em todo o território nacional, de cerca de 700 jovens que integram bandos violentos. Não foi possível ao Semmais determinar o número por distrito.