TAS estreia “A Casa de Bernarda Alba” em Setúbal

Peça inspirada na obra de Garcia Lorca vai estar em cena até ao próximo dia 29 no Fórum Municipal Luísa Todi.

“A Casa de Bernarda Alba” é a mais recente criação da companhia Teatro de Animação de Setúbal (TAS), tendo estreado na passada quinta-feira no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, onde ficará até ao próximo domingo.

Interpretada por Célia David, Cristina Cavalinhos, Maria Simões, Isabel Ganilho, Andreia Trindade, Rita Ferraz, Susana Dagaf, Cláudia Aguizo e Íris Wickings, a peça é encenada por Duarte Victor, que coloca em palco a última obra dramática do autor espanhol Frederico Garcia Lorca.

“O TAS já tinha trabalhado este autor. Fizemos um espetáculo que se chamava ‘Sonhar Lorca’, que foi criado e encenado pela Célia David. No entanto, é a primeira vez que fazemos um texto de teatro deste autor. Falamos de uma das peças mais icónicas do Frederico Garcia Lorca. É uma obra que será sempre importante na programação de qualquer companhia, porque é um clássico e uma referência na dramaturgia espanhola”, sublinha ao Semmais, Duarte Victor.

A obra conta a história de Bernarda Alba, uma mãe dominadora que controla com mão de ferro a vida das cinco filhas, Angústias, Madalena, Amélia, Martírio e Adela. Com a morte do segundo marido, a protagonista desta trama decreta o luto de oito anos e submete as suas filhas à reclusão, dentro das frias paredes da casa, com as janelas fechadas.

Um grito à consciência da sociedade atual

Perseguido e morto pelo fascismo espanhol, Frederico Lorca, tal como é representado na peça do TAS, procura despertar a consciência social para a posição da mulher na sociedade e a liberdade sexual.

“Estamos a falar de uma peça muito atual, na medida em que vivemos ainda num mundo onde o machismo e a homofobia estão bem presentes. E este texto põe em causa essas referências, que infelizmente ainda estão espalhadas um pouco pelas nossas sociedades, existindo ainda retrocessos civilizacionais relativamente ao papel da mulher”, destaca o encenador.

“Esta peça, diria mesmo, é como um grito de liberdade e uma reivindicação da mulher na sociedade”, acrescenta. Segundo Duarte Victor, a peça procura muito a importância e peso dramatúrgico do texto do autor espanhol. “Em termos de encenação pretendo valorizar as palavras de Garcia Lorca. Ele transporta muito a poesia para o teatro, eu diria mesmo que esta peça é um poema dramático e um alerta às consciências”, sublinha.

Sobre este trabalho o encenador diz ainda que procurou também potenciar as qualidades do elenco que, totalmente feminino, foi alvo de um trabalho intenso. “Valorizamos muito e trabalhamos muito com as atrizes. Toda a peça decorre num espaço minimalista, onde o drama e o conflito são valorizados pelas atrizes. A obra procura muito mais valer-se do trabalho, do excelente trabalho, diga-se, que as atrizes estão a desenvolver, do que propriamente da espetacularidade da cena. Naturalmente que, depois, procurei algum desenho de luz e de imagem, mas sempre num espaço minimalista, com alguns ou poucos elementos cénicos”, revela Duarte Victor