Insanidades ou nem por isso…

Volta ao cimo da mesa a discussão sobre um eventual regresso do serviço militar obrigatório e há mesmo um estudo que refere que quase 50% dos portugueses alinham por esse diapasão.

O tema parece inevitável face à situação que a Europa enfrenta no que toca à guerra na Ucrânia e às alegadas intenções da federação russa em alargar o medo bélico da sua conduta, bem como as incertezas das eleições nos Estados Unidos da América, cuja eventual vitória de Donald Trump será sempre um revés para a defesa da Aliança Atlântica.

Desta forma, a Europa está exposta às suas fragilidades, e vai ter que empreender (já é mais que certo) um desmesurado aumento de despesa com as Forças Armadas e, de forma mais alargada, na indústria de defesa, atingindo, no mínimo, dois por cento do PIB em cada um dos países.

Durante as últimas décadas a Europa, farol do mundo democrático, desinvestiu e muito na indústria militar face ao contexto de paz em que viveu, procurando investir num modo de vida mais sustentável. Estes ganhos fizeram com que fosse possível investir no estado social, na inovação e tecnologia e na economia verde, com metas atingíveis, que agora podem começar a marcar passo.

Perante as circunstâncias, há um retrocesso civilizacional que nos coloca desafios e confrontos, disruptivos na forma como temos encarado a sociedade ocidental. E esse é um problema bicudo.

No caso português, a situação é ainda mais complexa, uma vez que as Forças Armadas lusas padecem de falta de militares, de armamento e de quase tudo para poderem sofisticar a sua ação, nomeadamente em contextos de guerra.

Havendo tempo para minimizar estas fraquezas, julgo ser possível atenuar as dificuldades sem ser necessário fazer regressar o serviço militar obrigatório, que seria sempre um duro golpe para o país, como se viu nos anos 80, levando a que muitos milhares de jovens tivessem que sacrificar os seus estudos para exercer este dever, mesmo sem guerras no horizonte.

A solução pode estar na valorização de carreiras profissionais dos diversos ramos das Forças Armadas, com remunerações atrativas, formação adequada e planos de cidadania consentâneos com a realidade atual.

E porque não atrair jovens desempregados e fora do sistema, muitos engajados nas proximidades da marginalidade por falta de expetativas, e mesmo jovens imigrantes que não conseguem, em Portugal, oportunidades de soluções de emprego imediato. São duas franjas populacionais que podiam ser devidamente integradas, disciplinadas, com serviço público e úteis neste estranho contexto que estamos a vivenciar.