A saída extemporânea do anterior diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, cujo trabalho vai ficar por aferir em termos de resultados operativos, abre uma nova expetativa sobre o futuro de gestão pública da saúde no nosso país.
O Governo e a ministra da tutela têm toda a legitimidade para proceder a mudanças na gestão dos diversos organismos do Estado, mas a corrida louca de mudanças e alegados saneamentos que temos observado não parece trazer bom augúrio.
Desde logo este caso do SNS, que levou à demissão de Fernando Araújo, por pressões inusitadas e algumas inverdades, a fazer fé no que este quis deixar claro na Comissão Parlamentar, ao afirmar que entregou, e a tempo, o relatório solicitado pela ministra, plasmado num documento com 600 páginas e 350 anexos. Portanto, a ideia era mesmo deixá-lo de lado e proceder à sua substituição.
Para já foi nomeado António Gandra d’Almeida, um médico militar, que reúne bastante consenso entre a classe e o setor, mas ainda não se sabe que projeto vai implementar e liderar.
Os primeiros sinais indicam que o formato das 31 unidades locais de saúde (ULS), que agregam uma gestão uniformizada de unidades hospitalares e centros de saúde, conforme prevista na pequena reforma do anterior Governo, pode vir a ser desmembrado. E espera-se o tão anunciado plano de emergência para o setor proclamado pela AD em campanha eleitoral e confirmado pelo Governo de Montenegro.
Não sei se será uma opção positiva mudar tudo num repente, sobretudo numa aérea tão vulnerável e sensível, com os problemas que SNS atravessa e se agudizam no passar do tempo.
Por isso desconfio que esta torrente de mostrar ação vertiginosa de mudanças de cadeiras, romper projetos em curso e anunciar expetativas, pode parecer bem agora, mas ser contraproducente num futuro próximo.
Como tem sido provado ao longo das últimas décadas, as alterações estratégicas de fundo e estruturais no setor da saúde demoram tempo a atingir resultados e metas. Sobretudo quando o número de médicos é tão escasso e incapaz de preencher os magotes de saídas, seja por transferência para o privado, seja por limites de reforma.
No essencial, o que se espera é que este governo saiba o que está a fazer e cumpra o que prometeu em campanha eleitoral, resolvendo ou, no mínimo, atenuando os principais problemas que o último Governo não foi capaz de solucionar.
Havia pelo menos a réstia de esperança que a reforma da nova orgânica das ULS pudessem arrumar a casa e trazer algo de novo. Agora, se partirmos do zero, talvez nem isso.