O impacto do aumento da esperança média de vida e o papel ativo dos mais velhos na sociedade contemporânea, dominaram o evento organizado pela federação do PS. A iniciativa contou com a presença de altas figuras do PS no distrito.
Cerca de seis dezenas de socialistas e convidados da sociedade civil refletiram, sábado, em Setúbal, sobre as novas dinâmicas sociais entre os mais velhos e os jovens no mercado de trabalho. Os participantes, num modelo de mesas-redondas, discutiram o tema “Desafios Intergeracionais” – novas dinâmicas para longas vidas no ativo”, medindo impactos e procurando soluções para esta ‘coabitação’ da sociedade contemporânea.
No topo da discussão, estiveram temas como o impacto na sociedade atual, com especial atenção para o aumento da esperança média de vida, a pressão provocada por períodos de reforma mais longos, aumento de dependentes de cuidados continuados de saúde e até mesmo o impacto da formação dos jovens e as dificuldades destes em ingressarem no mercado de trabalho.
“Foi uma iniciativa bastante interessante, porque estamos a falar de um modelo experimental, sem palco, sem púlpito, num encontro mais ou menos informal ao pequeno-almoço, com o objetivo de trazer a academia, de áreas diferentes, mas muito interligadas, como a medicina, a inteligência artificial e a economia, por exemplo”, explicou ao Semmais Euridice Pereira, presidente em exercício da Federação Distrital de Setúbal do PS.
Em jeito de balanço, a líder socialista, a iniciativa a discussão sobre grandes temas da atualidade ligados a este fenómeno do envelhecimento ativo e relações dos mais velhos com as gerações mais jovens no ativo. “Nos dias de hoje vivemos um ritmo acelerado e a política não foge isso, atendendo a outros temas mais mediatizados e secundarizando este tipo de problemas que num futuro muito próximo se vão agudizar”, afirmou.
Um dos oradores principais foi Paulo Pedroso, sociólogo e antigo ministro, que apontou como um dos grandes desafios para o futuro da “intergeracionalidade”, questionar se a ideia “das três idades, infância-idade adulta-velhice deve permanecer ou se pode ser baralhada”, no momento em que, para o sociólogo, estas “já se empurram umas às outras”.
Paulo Pedroso considerou ainda, no âmbito da velhice, que Portugal se encontra “atrasadíssimo” no que toca a reduzir “riscos de dependência”, dando o exemplo da “pressão do encargo com o apoio aos mais velhos sobre as mulheres com idades superiores a 45 anos”, já que o Estado não consegue assumir essa função. O sociólogo argumentou, neste sentido, que o nosso país gasta apenas 1% do PIB com cuidados continuados quando na OCDE essa média consegue ser superior a 2% e que, por exemplo, os Países Baixos atingem os 8%.
Sustentabilidade da segurança social e satisfação dos jovens
Outro assunto abordado no evento teve a ver com o crescente envelhecimento da população, que gera grandes preocupações com o sistema de pensões e gera uma pressão cada vez maior sobre o Estado no cumprimentos dessas obrigações. António Mendonça, Bastonário da Ordem dos Economistas, defendeu a este propósito a necessidade de “um novo modelo”, afastando, contudo, algum pessimismo sobre a sustentabilidade da segurança social. “O problema está mais no modelo e na organização atual, do que propriamente na ideia de que pelo facto das sociedades estarem a envelhecer vamos ficar cada vez mais pobres e nem vamos ter dinheiro para comer”, dissertou o especialista. E acrescentou: “Considero esses receios como uma postura ideológica e não verdadeiramente científica. As condições existem, mas temos de encontrar esse novo modelo, face ao desenvolvimento tecnológico e ao nível de formação cada vez maior das pessoas”.
A juventude e a forma como esta se insere no mercado de trabalho foi outro dos temas que marcaram este encontro, com Paulo Marques, Coordenador do Observatório do Emprego Jovem do ISCTE, a denunciar que o modelo em vigor de empregabilidade “não está a satisfazer os jovens profissionalmente”, seja pelas “questões salariais, ou pelo fraco sentimento de realização pessoal”. “A ideia que fica é que temos de apostar na redução dos impostos, mas penso que isso não seja suficiente. Precisamos de políticas públicas muito mais ambiciosas, capazes de transformar a estrutura económica. E isso não se limita apenas a políticas nacionais, mas também a políticas comunitárias”, defendeu.
No final do encontro, Eurídice Pereira estava satisfeita com a discussão e ideias promovidas durante a iniciativa, em especial com algumas conclusões apresentadas. “Este encontro não se esgota aqui. Aquilo que ficamos a perceber é que estamos perante um modelo de sociedade que já não é o mesmo e há necessidade efetiva, com alguma urgência, de encontrar respostas e soluções para estas questões da intergeracionalidade”, referiu a presidente da federação socialista.
Em defesa da ideologia socialista, Eurídice Pereira afirmou que o seu partido pode ajudar a construir uma verdadeira resposta para alguns dos problemas apresentados neste encontro. “Para encontrarmos soluções para estes desafios a única forma de o fazer é juntar esforços de forma coletiva no espectro político nacional, implementando políticas que deem frutos e que respondam a estes desafios intergeracionais”, concluiu a presidente da federação socialista.
De referir ainda que marcaram presença no encontro nomes como João Botelho, doutorado em Ciências Biomédicas, co-diretor executivo do Centro de Investigação Interdisciplinar Egas Moniz e investigador na Saúde Oral, Qualidade de Vida e Saúde Pública; João Mouro, licenciado em Ensino Biologia e Geologia, que integra a equipa do ELO (Enhanced Learning Office) na Nova SBE (School of Business and Economics) e trabalha com a aplicação da inteligência artificial em contextos educacionais; Jorge Malheiros, doutorado em Geografia Humana, professor e investigador do IGOT da Universidade de Lisboa, e Sérgio Cintra, licenciado em Direito com pós-graduação em Direito das Autarquias, gestor e autarca, que exerceu funções de administração em áreas de empreendedorismo e economia social.
Entre os militantes do PS presentes, destaque para Ana Catarina Mendes, António Mendonça Mendes e João Costa, antigos governantes; Teresa Almeida, presidente da CCDR-LVT, além dos presidentes das câmaras de Almada e do Barreiro, Inês de Medeiros e Frederico Rosa, respetivamente.