Bairros degradados estão a aumentar no distrito, diz plataforma “Uma Casa Para Viver”. O distrito está a ser invadido pela especulação imobiliária e já tem preços de construção e de rendas mais elevados do que a média nacional.
Travar o surgimento de novos bairros de barracas e o crescimento dos que já existem e, em simultâneo, apelar ao fim da especulação imobiliária promovida pelos promotores são alguns dos objetivos da manifestação que irá ter lugar, na manhã de sábado, na Rotunda dos Bancos, em Almada. Promovido pela plataforma “Uma Casa Para Viver”, o protesto visa ainda reunir apoios para que se deem passos que possam conduzir ao abaixamento e regulamentação das rendas.
“O que temos constatado no distrito de Setúbal, e não só nos concelhos da península, é uma dificuldade cada vez maior dos pobres terem acesso à habitação. Existe um regime fiscal que privilegia os negócios de luxo e a especulação turística mas, por outro lado, nada se faz para baixar as rendas ao adaptá-las aos vencimentos e condições materiais das casas”, explicou ao Semmais um dos integrantes da “Chão das Lutas”, uma das associações que integra a plataforma “Uma Casa Para Viver”.
De acordo com João Carvalho, a crise no acesso à habitação no distrito enferma de vários problemas. “Não se trata apenas do valor das rendas – entendemos que nenhum agregado deveria pagar mais do que 35 por cento do somatório dos vencimentos. Há também problemas muito graves que devem ser resolvidos e que têm a ver com as questões energéticas, o distanciamento relativamente aos locais de trabalho e o desaparecimento do conceito de comunidade, sendo cada vez mais frequentes o desaparecimento do comércio tradicional, das coletividades e dos espaços verdes”, referiu.
Ativistas apontam dedo aos vários governos
O ativista da “Chão das Lutas” diz ainda que o atual Governo do PSD e o seu antecessor, do PS, são responsáveis por questões sociais graves nascidas do facto de os vencimentos não acompanharem o aumento dos preços: “Criaram-se dinâmicas que acabam por expulsar os mais pobres. Isso é evidente em Lisboa e motiva o crescimento da especulação imobiliária na margem Sul, onde em 2023 o preço médio de alojamentos familiares foi de 1.901 euros por metro quadrado e o valor médio das rendas foi de 8,92 euros por metro quadrado. Qualquer um deles é superior à média nacional”.
“A aposta na habitação pública deve ser uma prioridade do Governo. Em Portugal, de acordo com os dados disponíveis, apenas dois por cento das casas são do Estado ou das autarquias. É um número muito distante da realidade europeia. A título de exemplo basta referir o caso de Viena (Áustria) onde a percentagem é de 40 por cento”, disse ainda João Carvalho.
Na manifestação de sábado (a plataforma já conta em todo o país com 22 cidades aderentes) serão ainda feitas reivindicações para que seja dado uso para a habitação de edifícios públicos devolutos, sejam eles propriedade do estado ou de grandes proprietários particulares.
Almada tinha 62 bairros precários em 2021
Os dados das Estratégia Local de habitação relativos a 2021 referiam que nesse ano existiam no concelho de Almada 62 bairros precários, dos quais 43 foram edificados nos últimos 30 anos. Nesses bairros residem 2.200 agregados familiares, tendo ali sido identificadas mais de 8.000 pessoas para realojamento.