Fuente Vaqueros Água Pública III

Neste início mês de outubro em cujo primeiro dia se comemora o Dia Nacional da Água, retomemos a Moção aprovada a 18 de Setembro em sessão pública na Câmara Municipal de Setúbal contra a fixação de tarifas de água pela Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR), que considera ser um «retrocesso legislativo».

«A definição das tarifas deve ser uma lógica de serviço público», defende, «e não uma lógica puramente económico-financeira, sob pena de conduzir à elevação das tarifas para níveis socialmente incomportáveis», assim sublinha a nota de imprensa autárquica.

Matéria naturalmente a desenvolver muito mais, limitamo-nos à “declaración” que Federico Garcia Lorca fez em Fuente Vaqueros – a sua terra natal -, quando, decorrendo o ano de 1929 e já ele sendo autor de “Mariana Pineda”, a comunidade quis prestar-lhe homenagem com honras de banquete domingueiro: «Já que estamos juntos, não quero deixar de elogiar a vossa maravilhosa fonte de água fresca. A fonte de água é um dos motivos que mais definem a personalidade desta pequena aldeia. Os povos que não têm fonte pública são insociáveis, tímidos, diminuídos. A fonte é o sítio de reunião, o ponto onde convergem todos os vizinhos e onde se trocam impressões e arejam os espíritos. A propósito da fonte, falam as mulheres, encontram-se os homens, com a sua água cristalina crescem os seus espíritos que aprendem não só a quererem-se como a compreenderem-se melhor. A aldeia sem fonte é fechada, como que obscurecida, e cada casa é um mundo à parte que se defende do vizinho. Fuente se chama este lugar; Fuente que tem o seu coração na fonte da água beneficente» (in “Obras Completas”, da Aguilar Editora, tradução livre).

Lorca morreu na guerra em que sobre a pacífica Guernica foram lançadas bombas, a forma mais simples de escrever sobre todas as guerras. Mas a alocução antecipava a sua decisão de «criar um teatro do povo, ambulante e gratuito» que, como nos diz André Belamich (“Federico Garcia Lorca”, Círculo de Leitores), tornará conhecido por toda a Espanha o reportório das obras-primas clássicas: La Barraca. E antecipava aquele que porventura será o mais expressivo encontro da mulher que fala com os homens que se encontram, na despedida de La Pasionara, a Presidente do Partido Comunista de Espanha, em nome da República, das Brigadas Internacionais, em Barcelona, a 15 de Novembro de 1938, naquele instante de derrota onde a água deixa de ser, ela, e passe a paráfrase, «abundante e gratuita».

Valdemar Santos – Militante PCP