O Caso Salgado

Todos sabemos que há contas a fazer no que toca a um dos maiores crimes económicos ocorridos em Portugal, conhecido por ‘Caso BES’ e que o seu promotor, Ricardo Salgado está, agora, finalmente, nos braços da justiça.

O processo é gigantesco e lesou muita gente que não só aqueles que foram diretamente encorajados (Cavaco Silva também o fez publicamente, já com o banco a cair a pique) a investir as suas poupanças nos sacos da ganância do banqueiro e do seu séquito de ‘chupistas’, além dos políticos de algumas cores, empresários, lobistas, famosos e mais ou menos famosos que gravitavam à volta de Salgado, então conhecido pelo dono disto tudo.

E todos nós também lesados, obrigados a repor o normativo financeiro do banco, para que este não implodisse totalmente. Mudou-se o nome, criou-se uma nova marca, venderam-se aos abutres financeiros imparidades, mas também algum filé mignon e a coisa andou…

Neste entretanto, alguns processos judiciais conexos extraídos das primeiras investigações já foram à barra e alguns outros até finalizaram o trânsito em julgado, mas parece que vai ficar para sempre uma sensação de impunidade.

Este quadro resulta da demora da justiça em Portugal, da extensa e permissiva litigância que o nosso sistema permite e, em última instância, de uma certa perceção de que ‘os grandes safam-se quase sempre’.

Não sei se concordo. Mas a verdade é que muitos portugueses anónimos são confrontados todos os dias com penhoras de todos os tipos, processos de pequenas dívidas e sentenças sem apelo nem agravo em pequenos delitos que avançam vertiginosamente pelos tribunais.

Eis agora um homem de idade avançada, doente e mentalmente fragilizado, que nos dá pena, correndo o risco de se deter perante um corpo de juízes que levam o mister à séria, independentemente da gestão do bom senso e do sentido humanista que muitas vezes arreda pé das teias da lei, que devendo ser cega, está ao serviço do homem e da sociedade.

Não compreendo, por isso, porque é que ao longo destes tantos anos não foi possível, pelo menos, ressarcir os lesados, todos nós, através do resultado da venda de bens arrolados (ao contrário de se ter permitido vendas e transações fictícias entre a família Salgado) e pelos lucros bancários herdados pelo novo BES.

Prender um homem de idade, já inerte para a vida, sem repor o(s) roubo(s) em cima da mesa, não é certamente a melhor justiça. E lesa, de certa forma, a compaixão que deve nortear decisões deste tipo.

No mais, como se costuma dizer, que se faça justiça..