A ministra e o futuro da nossa saúde

A situação precária e deficitária do INEM escalou um mal estar em cujo centro nevrálgico está a atual ministra da Saúde, Ana Paula Martins.

Sob fogo cerrado, da esquerda à direita, a membro do Governo está a atuar como o tem feito desde que pegou nesta pesada pasta: defende-se ao ataque, afastando de si qualquer responsabilidade direta. Para esconder as suas fragilidades, de gestão e de comunicação, não raramente desdizendo-se, Ana Paula Martins apresenta uma imagem de dureza, firme e sempre de dedo em riste.

Só que este caso deixa uma mácula impossível de suavizar, porque morreram pessoas, mortes estas já indiciariamente ligadas à má operacionalidade deste serviço público nuclear de emergência médica.

Quando assumiu o cargo, a coberto do primeiro ministro, tratou de eliminar o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, Fernando Araújo, cujo plano quase não chegou a ver a luz do dia. Foi também um ato perto do vingativo, já que Ana Paula Martins, demitiu-se da administração do Hospital Santa Maria, em dezembro de 2023, exatamente por discordar do mesmo. No caso, contra a inclusão dos hospitais universitários nas então lançadas Unidades Locais de Saúde.

E para além da desmontagem do novo sistema orgânico, que estava a ser experimentado, e da paulatina entrega da saúde a operadores privados, como se vai verificar aos pulinhos, fez cair administrações, demitiu outros tantos dirigentes e empreendeu uma cavalgada que não se sabe bem onde vai chegar.

A ministra começa a ficar sob os holofotes da oposição, mas também da opinião pública, criando um nódulo perigoso na estratégia de Montenegro em aliciar os portugueses com anúncios e campanhas, umas atrás das outras.

E mesmo que, por ora, haja dinheiro para manter em sossego uma boa parte das classes profissionais no setor público da Saúde, não chega para atacar os problemas estruturais que também os socialistas não conseguiram resolver.

O problema maior, que vai estar em causa daqui por uns tempos, é que nos foi dito e redito antes das últimas eleições legislativas que tudo seria resolvido em tempo recorde. Lembro, a título de exemplo, a tirada do ex bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães – agora deputado do PSD pelo Porto – que ousou afirmar que o país ia ‘encher-se’ de médicos de família…

Estas incongruências e a razia operada desde que Ana Paula Martins tomou o leme desta tutela, vão fazer engrossar a ideia de que a Saúde em Portugal só pode ter salvação com um pacto de regime, que una esforços, que rastreei a força partidária da gestão do sistema, e que encontre caminhos que cumpra o quesito constitucional do direito à Saúde para todos, todos, todos