Projeto para identificar e salvar cavalos marinhos avança no Sado

Até agora não se sabe quantos são, quais as espécies e onde será possível encontrá-los. Os cavalos marinhos do Sado são espécie em risco e que estão a despertar grande interesse e entusiasmo na comunidade escolar do concelho.

Ao certo ninguém sabe quantos são, por quantas colónias estão dispersos e quais os perigos que enfrentam. Os cavalos-marinhos do estuário do Sado são, no entanto, uma realidade. Uma espécie de bandeira do rio, à semelhança dos golfinhos, e cuja preservação é urgente. Nesse sentido, a Câmara Municipal de Setúbal celebrou um protocolo com mais quatro entidades e, a partir do próximo ano, iniciar-se-ão os mergulhos e os estudos que hão de determinar o estado de uma das espécies mais ameaçadas da fauna marítima portuguesa.

A MARDIVE – Associação de Ciência e Educação para a Conservação da Biodiversidade Marinha fez a proposta para a celebração do memorando de entendimento, ao qual também acederam de imediato a Coca-Cola Europacific Partners, a Liga para a Proteção da Natureza (LPN), o Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e, naturalmente, a Câmara de Setúbal.

“Este é um projeto de grande importância para Setúbal. Os cavalos-marinhos podem ser uma referência, tal como são os golfinhos. Este projeto integra-se na perfeição num outro que já temos em andamento e que tem a ver com a literacia marinha e que, genericamente, envolve em grande escala a comunidade estudantil do concelho”, explicou ao Semmais fonte do gabinete da presidência.

O envolvimento do município irá traduzir-se, conforme foi confirmado pelo mesmo responsável, em “apoio logístico e apoio financeiro na ordem dos 5.000 euros”. “Neste momento, no que respeita à comunidade estudantil, podemos dizer que o interesse ultrapassou todas as expetativas. Queremos chegar a todos os agrupamentos escolares do concelho, para ministramos sessões sobre a biodiversidade do Sado e a importância de salvarmos espécies que podem estar em risco. A adesão tem sido total e tem revelado um grande interesse por parte dos estudantes e dos docentes e até já temos filas de espera para algumas atividades destinadas aos mais jovens, como sejam os batismos de mergulho. Já teremos cerca de 600 a 700 alunos das diversas escolas a acompanhar as ações de sensibilização”, explicou. Para além do apoio financeiro da Câmara de Setúbal, também a Coca-Cola irá disponibilizar 15.000 euros, dinheiro que servirá, sobretudo, para as operações de mergulho para identificação das espécies.

A importância deste projeto acentua-se ainda mais quando é sabido que na Ria Formosa, local onde por norma estão identificadas a maior quantidade de colónias destes animais, têm-se verificado nos últimos anos um grande declínio das populações. Acredita-se mesmo que nas últimas décadas tenham desaparecido cerca de 90 por cento dos cavalos marinhos que ali existiam. “Neste momento, quando ainda não existe nenhum levantamento no Sado que permita fazer grandes conjeturas, acreditamos que residam aqui grupos de cavalos marinhos comuns e de focinho comprido, que são precisamente os que têm vindo a desaparecer no Algarve”, adiantou ainda a fonte contactada.

Resultados científicos serão tornados públicos

A Câmara Municipal de Setúbal conta ter, no decurso do próximo ano, os resultados científicos dos estudos que irão ser desenvolvidos. Trata-se, dizem os técnicos camarários ligados ao setor do desenvolvimento sustentável, de uma forma de criar bases para que mais pessoas possam aderir às causas ambientais.

“A comunidade educativa está muito desperta para as questões ambientais e vivamente interessada na preservação dos ecossistemas. No entanto, tão importante quanto seduzir as pessoas para estas causas, é mantê-las sempre ligadas aos assuntos. É por isso que, a par dos estudos relativos aos cavalos marinhos, iremos igualmente apresentar outros que dizem respeito às pradarias marinhas existentes no Sado”, explicou ainda um responsável camarário.

Os últimos dados coligidos por diversas associações ambientais demonstram que as pradarias marinhas, que para além de capturarem o carbono e libertarem oxigénio se revelam igualmente decisivas para a fauna local, uma vez que funcionam como maternidades para diversas espécies. “Os mapeamentos já efetuados mostram que as pradarias marinhas no Rio Sado estão em expansão. Esse é também o resultado das campanhas que têm sido efetuadas nos últimos anos e que têm permitido sensibilizar pescadores e operadores turísticos para a necessidade de preservar o fundo do rio”.

Os projetos em curso preveem que se realizem várias ações de mergulho em seis pontos de amostragem do Estuário do Sado, designadamente na Ponte do Adoxe, Soltroia, Catita, Cais da Sapec, Pradaria Carraca e juntos aos viveiros de ostras.