Base Área Do Montijo no centro de mais de meio milhar de salvamentos em dez meses

Os aviões e helicópteros estacionados ou comandados a partir do Montijo são determinantes em salvamentos no mar, no transporte de doentes e órgãos para transplante, mas também no combate ao narcotráfico, imigração ilegal e apoio à pesca.

O brasão idealizado pelo comandante Sacadura Cabral ostentava a frase “Onde a Terra Acaba e o Mar Começa”. Uma máxima com 71 anos mas que ainda hoje se mantém atual. Alude à Base Aérea número 6, no Montijo, onde diariamente se voa para todo o continente e ilhas em operações de busca e salvamento no mar, mas também de transporte de doentes e órgãos para transplante. Um trabalho ainda pouco conhecido da generalidade das populações, mas que anualmente justifica a operacionalidade de quatro Esquadras de aviões e helicópteros em alerta permanente. Só este ano, até ao primeira dia de outubro, os operacionais ali sediados realizaram 543 missões, muitas delas na Madeira e Açores.

O Semmais perguntou e a Força Aérea Portuguesa (FAP) explicou. Das 543 missões realizadas até ao início do mês passado resultaram o transporte de 729 doentes por todo o território nacional, o resgate de 41 pessoas em missões de busca e salvamento e destas ocasiões foi ainda requerido o apoio do avião C-295 M. “No que respeita a outras missões, merecem destaque o apoio no transporte de ajuda para combate aos incêndios que deflagraram na Madeira, mas também o apoio prestado quando deflagrou um incêndio no Hospital de Ponta Delgada e ainda as missões de repatriamento de cidadãos que se encontravam no Líbano”, adiantaram os responsáveis militares.a concretização de mais 31 missões de transporte de órgãos para transplante. A partir do Montijo, desde o início do ano e até ao dia 6 de novembro, a Esquadra 504 realizou 28 missões de busca e salvamento com recurso ao helicóptero EH-101 Merlin. Em quatro destas ocasiões foi ainda requerido o apoio do avião C-295 M. “No que respeita a outras missões, merecem destaque o apoio no transporte de ajuda para combate aos incêndios que deflagraram na Madeira, mas também o apoio prestado quando deflagrou um incêndio no Hospital de Ponta Delgada e ainda as missões de repatriamento de cidadãos que se encontravam no Líbano”, adiantaram os responsáveis militares.

Estas atividades, conforme disseram os responsáveis da BA6 e do Estado Maior da FAP, são muitas vezes determinantes para o salvamento de vidas em zonas mais isoladas e de mobilidade mais difícil, como são os arquipélagos da Madeira e Açores. É por isso que na Ilha de Porto Santo estão em alerta as Esquadras 502 e 751, ao passo que na BA4, na Ilha Terceira, operam as Esquadras 751 e 752.

“As Esquadras de Voo sediadas na BA6 garantem um dispositivo de alerta permanente que cobre a totalidade do território nacional, com tripulações de alerta no Montijo, nos Açores e na Madeira. Assim, no Montijo são garantidos alertas permanentes pela Esquadra 501, 502, 751 e 504 (esta última em destacamento permanente no Aeródromo de Trânsito N.º 1, Portela, operando a aeronave Falcon 50). No Arquipélago da Madeira (Aeródromo de Manobra N.º 3, Porto Santo) o alerta é garantido através das Esquadras 502 e 751. É igualmente garantido um alerta permanente da Esquadra 502 no Arquipélago dos Açores (Base Aérea número 4, Ilha Terceira) e prestado um apoio pela Esquadra 751 à Esquadra 752 (sediada na BA4 e que igualmente opera o helicóptero EH-101 Merlin), em termos de tripulações e manutenção de aeronave”, esclareceram as chefias militares.

Os números da FAP revelam também a crescente importância de ter meios aéreos em permanência no apoio à população nacional. Os dados estatísticos mostram que em 2022 se realizaram 46 missões de buscas e salvamento, que se fizeram 45 transportes médicos e 15 de órgãos para transplante. “Além disso também houve trabalho a transportar para os arquipélagos as vacinas necessárias devido à pandemia de Covid-19 e, ainda, a promover o repatriamento de cidadãos nacionais que se encontravam na Ucrânia quando rebentou a guerra”, exlicaram.

Já em 2023 foram contabilizadas 54 missões de busca e salvamento, 45 transportes médicos e 25 transportes de órgãos para transplante. Entre outras missões, os responsáveis militares referem as realizadas em Marrocos, de onde foi necessário retirar cidadãos portugueses que ali se encontravam quando da ocorrência de um terramoto de grande intensidade e que reduziu a escombros diversas localidades. A situação de guerra entre Israel e as organizações armadas que atuam, preferencialmente, a partir da Palestina e do Líbano motivaram também uma intervenção de alta escala em Telavive, de onde foram transportadas diversas famílias portuguesas.

Combate ao narcotráfico e ajuda às pescas

A missão das diversas Esquadras sediadas no Montijo ou colocadas noutros aeródromos e bases aéreas mas coordenadas a partir da BA6 não se restringe à busca e salvamento ou transporte de doentes. As Esquadras 501 (conhecida por Bisontes) e a 751 (internamente designados por Pumas) têm também umas vasta experiência em missões de vigilância e reconhecimento.

“Essas missões são desencadeadas em apoio a operações de combate ao narcotráfico, imigração ilegal, poluição marítima, controlo de pescas”, dizem os responsáveis da FAP, lembrando também que a Esquadra 502 tem uma longa tradição associada à fotografia aérea, área tida como fundamental para, por exemplo, manter atualizadas as características do território nacional mas, também, para ajudar a identificar um vasto conjunto de embarcações (de pesca, de transporte e até de guerra) que diariamente sulcam as águas nacionais.

No que se refere à pesca é curioso verificar que as tripulações da FAP procedem muitas vezes à localização de cardumes quando voam a baixa altitude, em manobras de treino para, por exemplo, escaparem ao controlo de radares. Nessas ocasiões surgem muitas vezes à tona enormes manchas prateadas, cardumes de espécies procurados pelos barcos portugueses. A localização acaba por ser registada e enviada para as estruturas militares que, posteriormente, as comunicam às capitanias e embarcações de pesca.

Os responsáveis da FAP, respondendo ao nosso jornal, afirmam ainda que não é possível estimar o custo de cada intervenção, devido à especificidade de cada uma delas e ao local onde se desenrolam. “Não é possível aferir um custo médio, porque cada missão de busca e salvamento é única, seja pelo que é necessário executar, seja pela distância a percorrer ou pelo número de meio envolvidos e ainda, entre outras variáveis, pelo estado do tempo. Estas missões têm um objetivo e propósito de vida, pelo que não têm preço”, referem as estruturas militares.

Aos custos das missões que não são possíveis de quantificar junta-se também toda a formação específica dos militares intervenientes. “A formação dos militares para executarem as missões de busca e salvamento depende do tipo de aeronave e do tipo de tripulante. São ações morosas, complexas e exigentes, de modo a que cumpram os padrões de segurança mais elevados”, dizem os responsáveis da FAP.

“No helicóptero EH-101 Merlin a tripulação é composta por dois pilotos-aviadores, um operador de guincho, um recuperador-salvador e um enfermeiro aeronáutico. Já no avião C-295-M a tripulação básica é composta por dois pilotos-aviadores e dois operadores de cabine. Por fim, no C-130H, participam dois pilotos-aviadores, um navegador, um fligth engineer e dois loadmasters (mestres de carga)”.