O falhanço do lítio em Setúbal

A desistência da GALP de construir a tão propalada refinaria de lítio, na zona industrial da Mitrena, em Setúbal, não deixa de ser um revés, tendo em conta que se tratava de um projeto de grande dimensão e escala.

Acompanhei as preocupações vertidas durante o período de consulta pública, grande parte das mesmas plasmadas no contexto da Declaração de Impacte Ambiental (DIA), e ao ler o documento fiquei com a noção de tratar-se de uma peça técnica muito bem arrumada, dissipando as principais dúvidas e acautelando parte significativa dos riscos que um empreendimento deste tipo e desta dimensão sempre acarretam.

Segundo se sabe, a exploração de lítio a Norte de Portugal e a produção do composto químico (hidróxido de lítio) em Setúbal têm forte procura à escala mundial, com destino a vários setores, nomeadamente para a produção de baterias para a indústria automóvel de veículos elétricos, situação evidenciada na própria DIA.

Para além do chamado ‘triângulo do lítio’, composto por países como a Argentina, Bolívia e Chile, Portugal integra, com a exploração de 600 toneladas deste metal por ano, um segundo lote de produtores, entre os quais Austrália, Zimbabué, China, Canadá. Mas, segundo as últimas estimativas, os recursos nacionais estão ainda muito longe de atingirem níveis de exploração consonantes com essa riqueza no subsolo, em particular em terras do Barroso.

Trata-se, portanto, de um negócio relevante para a economia nacional que, bem acompanhado e monitorizado ambientalmente, será, a prazo, uma espécie de ouro. Acrescendo a criação de emprego, parte dele muito especializado, e os ganhos endógenos diretos e indiretos que o projeto acomoda.

A Europa, no seu todo, também precisa desta produção, sobretudo quando se preveem novas guerras e constrangimentos comerciais a diversos níveis.

Por isso este falhanço preocupa e não deixa de ser, para já, uma oportunidade perdida, a não ser que, estando a DIA em vigor por mais uns largos tempos, haja ainda quem dê a mão à Galp e ofereça os meios financeiros e o ‘know-how’ para recuperar a ideia.

Claro que para muitos, Setúbal livrar-se deste alegado risco às portas da cidade e da região é um alívio, mas há oportunidades que não se devem perder.