B. Lage a P.M. e Ricardo Araújo Pereira a P.R.

Um café e dois dedos de conversa

O MUNDO mudou. Hoje temos um Trump a Presidente, um Bolsonaro, mas também temos fenómenos como Beppe Grillo, que era um verdadeiro comediante profissional, e agora lidera o “Movimento 5 estrelas”, e é a chave da política em Itália. Na Ucrânia mais de 73% dos eleitores elegeram Vladimir Zelenski, judeu e ator cómico. E podia continuar com exemplos, mas a ideia que vos quero passar é mesmo essa – Ao contrário de outros tempos, onde a política se fazia com políticos de carreira, cinzentões, atualmente o palco está aberto e disponível para qualquer cidadão que saiba comunicar e que tenha uma mensagem forte para passar. E em Portugal vejo um excelente exemplo disso: Ricardo Araújo Pereira.
Reparem, quem tem marcado decisivamente a agenda política e mediática nacional nos últimos tempos? Pensem bem e vejam se não é precisamente RAP. Após a sua parábola sobre o Joe Berardo, aquilo que começou por ser um escândalo, difundido nas redes sociais, passou a escândalo nacional, comentado por todos os líderes dos partidos.
Outro exemplo, o caso do Juiz Neto de Moura e o célebre jogo “Salvem o Neto”. Comparem a repercussão que esse fenómeno teve, antes e depois do programa.
E quem tem contribuído mais para chamar a atenção dos cabeças de lista às Europeias? Precisamente RAP. Eu atrevo-me a dizer que uma larga percentagem de portugueses que se alheou destas eleições, só sabe e vê alguma notícia sobre as próximas eleições europeias, quando vê o programa, em direto, ou em partilhas nas redes sociais.
Escrevam este meu prognóstico: Com a sua popularidade, cultura democrática, sentido de oportunidade e “faro político” temos em RAP o protótipo de um político “não político” que possa vingar em Portugal.
Já Bruno Lage, na sequela do feito notável que protagonizou no Benfica, ao invés de optar por ser um fanfarrão, foi igual a si próprio, comedido, humilde, assertivo. Pergunto-vos: já pensaram o que diria Jorge Jesus se conseguisse esse feito? Ou o arruaceiro do Sérgio Conceição? Ou Pinto da Costa, no seu estilo mordazmente irónico? Ou Francisco J.Marques/ Bruno de Carvalho), num estilo mal-criado e provocador ou, ainda, Frederico Varandas num perfil, apenas, timidamente provocador, mas coniventemente indecoroso (vide comemorações aquando da vitória europeia em Futsal)? Comparem e tirem as vossas conclusões
Lage limitou-se a um discurso para dentro – elogio ao papel de Jonas (assim se conquista um grupo e se mostra gratidão). Em vez do “eu”, a que os benfiquistas estavam habituados com JJ, optou pelo nós, e pelo foco nos jogadores e na estrutura.
Em vez de gozar ou ridicularizar os seus adversários, quando os mesmos até o “convidavam” a isso, com a sua falta de cultura desportiva (à exceção de Keisar – um senhor), a grande maioria dos Sportinguistas optou por desvalorizar o mérito da equipa de Lage, optando por atribuir às arbitragens esse mérito, enquanto que o FCP institucionalmente permitiu a vergonha daquela tarja e não foi capaz de reconhecer o mérito a um adversário que lhe ganhou diretamente duas vezes e de forma categórica, para além de tudo o resto que sabemos.
Optou por um discurso apaziguador, de verdadeira cultura desportiva, exortando os benfiquistas a darem mérito ao esforço dos adversários e rivais em vez de os ridicularizar, para que no futuro também recebam o mesmo tratamento. Dou-vos um exemplo de uma situação aparentemente igual, mas com comportamentos tão distintos: Rui Vitória que também tinha uma postura low-profile, que também foi ridicularizado, enxovalhado pela dupla Bruno de Carvalho/Jorge Jesus, quando venceu, em vez de ter sido superior e apaziguador, não enjeitou a oportunidade de falar no “homem das pipocas”. Veem a diferença?
Por fim, e o que mais retive do discurso de Bruno Lage, foi o seu apelo cívico. Começou por apelar a que os benfiquistas deixassem o Marquês limpo, o que não aconteceu, como se viu, mas ele fez o seu papel.
Depois, e mais importante, apelou a uma cultura de exigência e tolerância. E tem toda a razão: se somos tão exigentes com os jogadores de futebol, porque não o somos com os políticos, advogados, cozinheiros, etc.
E connosco próprios. E essa é a verdadeira mensagem. Bravo Bruno Lage.
És um campeão e se não deres para o futebol (mas a questão é que dás), tens aqui um seguidor atento desse futuro e hipotético percurso político –

É caso para perguntar: Rumo ao 38 ou a São Bento?