Em pé de igualdade

Política e Cultura

DETERMINADO pela ONU em final de 2017 para que viesse a assumir-se em 2018, o dia 20 de Maio celebra o Dia Mundial da Abelha. Curiosamente, e ficamo-nos por aqui, o Brasil comemora o Dia Nacional do Mel a 17 de Março e até há já projecção de que em 2020 será a uma terça-feira, em 2021 a uma quarta, e em 2022 a uma quinta, o que comprova um alto grau de planificação – e o Dia do Apicultor a 22 de Maio, nesta nossa e particularmente nossa intensa semana!
Talvez porque o caminhar nos Continentes é antes de tudo, para nós, lusitanos, aproximarmos a nós próprios as fronteiras já no leste imediato ou margens atlânticas com a ressonância que dispensa tradutores e por elas entrarmos, a mera identificação das datas acima aludidas fez-nos recordar a história dos desesperos de apicultores portugueses cujas colmeias, na raia, eram assaltadas e despejadas por enxames de abelhas espanholas.
Já nestas páginas pudemos aludir ao poema de Federico Garcia Lorca de 1928 que dá mote à Guardia Civil que «por um túnel de silencio» se afasta de uma cidade andaluza de ciganos cercada por chamas. Trata-se da denúncia de um crime atingindo um povo seguido da cuidadosa fuga dos seus autores de (ou da, se se preferir) consciência tranquila.
O aparente despropósito desta(s) conexões também pode sumir-se. Foi num lugar público que ouvimos um apicultor português comentar, é verdade com uma certa ironia a aliviar o seu carregado drama, «mas por que é os hermanos não nos procuram que a gente havia de achar um entendimento lucrativo para todos: por mel, davam-nos vinho». «Mas por cá isso não falta», contrariaram, e era mesmo numa taberna de Campo Maior. «Vamo-nos entender: aves da rapina não são as abelhas, são os latifundiários dos dois lados».
Dois povos em pé de igualdade eram assim o pano de fundo que encimava este diálogo, soberania, independência, produção e desenvolvimento como palavras de ordem de um desígnio e de um projecto que Lorca abraçou e por isso foi assassinado. Num Mundo de Paz e Cooperação, liberto dos ditames do imperialismo e, no espaço onde batalhamos, das amarras da União Europeia e dos seus instrumentos monetários. Na campanha da CDU vincam-se ainda os Direitos com o património histórico de uma luta secular que nenhuma outra força política tem punhos para erguer.