Turismo vai, turismo vem

ESTÃO MAIS que esbatidas as dúvidas sobre se o turismo na região de Setúbal perde ou ganha por estar ligado ao grande ‘chapéu’ da marca Lisboa. Os resultados estão à vista, e hoje já quase ninguém nega o óbvio.

Durante largo tempo, fui um dos que, talvez emerso num excessivo bairrismo, critiquei a opção do atual modelo de gestão, e duvidei dos resultados, por achar que a região perderia alguma chama, no contexto de uma Lisboa a braços com um ‘boom’ inusitado de forasteiros.

Havia ainda outro pressuposto falacioso que nos andou a toldar o raciocínio durante décadas, ao persistir a ideia-feita de que a região mantinha uma valia turística e um peso no cluster que afinal não tinha. Os números estão à vista. O turismo de Lisboa, na sub-região Setúbal, cresceu como nunca. Abriram-se unidades hoteleiras, pulverizou-se o alojamento local, as guest-house, e afins, trazendo às urbes, para além do destino sol e mar, turistas de todos os cantos do mundo.

Sobretudo, constatou-se que a nova corrida partia de um patamar muito baixo, com números irrisórios a rondar os 3 por cento. Isto é: não bastava ter partes de um paraíso à porta de casa, para que ele se enchesse sozinho, pelas mãos de meia dúzia de agentes do setor, tutelas voluntaristas, e um banco de camas que pareciam muitas, mas chegavam para as encomendas. Provou-se que um destino com potencial não se agiganta de forma mágica, nem ao sabor de meia dúzia de panfletos, embora seja justo consagrar todos os protagonistas que a ele se dedicaram com devoção.

Na verdade, não custa assumir, que o paraíso Setúbal (toda a região, bem entendido) é parte integrante do turismo de Lisboa. Resultou e ganhamos todos, obrigo-me a concordar. E o que se vê, o que se sente, e o se vislumbra, é a consolidação desta visão estruturante que vai sustentar este cluster que ainda tem muito para crescer. Mas as autoridades que tutelam o turismo de Lisboa (Setúbal) acabaram por deixar um pedaço de razão nas dúvidas lançadas nesse período em que o bairrismo contagiou a análise. É que não basta o que se fez. É preciso alargar e integrar mais a estratégia regional olhando de forma mais profunda para a oferta deste lado. 

Saúdo esse desiderato, plasmado no novo Plano Estratégico 2020-2024. Afinal o paraíso instalado não se mexe sozinho, mas o potencial da sua existência é meio caminho andado para que ninguém lhe seja alheio.

Raul Tavares
Diretor