Comunicação social e o Coronavírus

Entre o bom senso e as preocupações legítimas relativas ao surto epidémico do “coronavírus”, há que salvaguardar o alarmismo e evitar a histeria, sob pena de andarmos à frente dos acontecimentos e provocar uma entropia inusitada, pelo ruído e até por notícias erradas.

Não sei se após a escrita deste texto já terão sido declarados casos suspeitos no distrito de Setúbal – não tenho essa capacidade de adivinhação, embora estejamos todos alertados para o facto de isso poder vir a acontecer – , mas as primeiras notícias sobre o assunto, veiculadas por alguma comunicação social não cumpriram as melhores regras do jornalismo.

Quando se trata de assuntos tão sensíveis, a comunicação social tem obrigação de apenas informar factos devidamente confirmados, sendo que, nos casos a que me refiro, foi até dado nota que nenhuma das situações havia sido “confirmada oficialmente”.

Logo, os três casos mencionados terão sido de três pacientes (entre dezenas de outros) que se apresentaram nas urgências (mau princípio, a evitar se as suspeitas dos próprios corresponderem à sintomatologia indicada pelas autoridades de saúde) com sintomas gripais.

No dia em que as notícias foram divulgadas, o Semmais contactou as autoridades que não confirmaram nenhum caso na região, incluindo o Centro de Saúde de Sesimbra e o Centro Hospitalar de Setúbal – locais onde pretensamente teriam ocorrido os alegados casos. Por isso, não havia notícia a dar. Ponto!

Sabemos, ontem e hoje, que a vontade de “fazer sangue” e bordejar o sensacionalismo é um limite muito ténue da atividade jornalística, mas nestes assuntos, como é este, de saúde pública, todo o cuidado é pouco.

E cabe à comunicação séria respeitar os níveis éticos e deontológicos a que está obrigada. Nestes casos, nem o Correio da Manhã, fez pior… 

Raul Tavares
Diretor