Em menos de uma década, os portugueses foram obrigados a enfrentar duas crises sem precedentes, a primeira, a partir de 2008, com a bolha imobiliária e das dívidas soberanas, e esta, agora, do coronavírus.
Não tem sido, pois, um arranque de século famoso para os nossos lados, mas essas provações tem revelado de que cepa são os portugueses feitos, herdeiros de Viriato e da Epopeia dos Descobrimentos relatada por Camões.
Na crise financeira, deitados por terra pela ganância de banqueiros e investidores sem escrúpulos, falimos em toda a linha, e soubemos, todos, aceitar o destino com a força que nos fez sair dela. De bons alunos, passamos a ser novamente respeitados enquanto país, enquanto Estado nação e enquanto povo. As ‘agênciazinhas’ de rating, que ajudaram à festa, espreitam agora uma segunda oportunidade.
Desta vez, revelando um altruísmo, união e solidariedade que nos orgulha, estamos a reagir como país pequeno a uma gigantesca crise humanitária – que ficará para a História deste século – com conta, peso e medida. Certo disso, é que parte do planalto que a pandemia está a registar no país muito se deve a este povo que, quando chamado à responsabilidade, cumpre um desígnio coletivo.
Não vai ser fácil sair desta encruzilhada, porque a seguir à crise de saúde pública, virá o tsunami económico e financeiro, já anunciado, agravado por uma União Europeia que não está a saber respeitar os seus valores essenciais, em nome da carta magna que a criou e a fez expandir. A Europa social, da coesão e da solidariedade mostra, nesta tormenta à escala global, que continua a ser liderada por políticos de pequena dimensão, sem visão estratégica e sem capacidade de acudir aos seus.
Mas é nestas alturas que um povo se agiganta. Tal como há meia dúzia de anos, mesmo com o superior garrote da troika e de uma austeridade acima do excesso, acredito que saberemos dar as respostas adequadas, mostrando o que a História nos repete, em ciclos, que este pequeno país da zona mais ocidental da Europa é Grande.
Raul Tavares
Diretor