Setúbal leva a concurso quatro candidaturas ao 7 Maravilhas da Cultura Popular

O Semmais apresenta-lhe o património sadino: As Festas e Feiras, as Lendas, O Artefacto e as Procissões e Romarias.

As quatro candidaturas que a cidade de Setúbal apresentou ao concurso 7 Maravilhas da Cultura Popular foram aceites pelo conselho científico do certame. A cidade, que pretende evidenciar o seu património cultural, material e imaterial, concorre nas categorias de Festas e Feiras, Lendas, Artefactos e Procissões e Romarias.

O concurso, que se realiza a nível nacional, vai ter uma segunda fase onde, dos 140 patrimónios inicialmente selecionados, se irão escolher apenas 21. Depois, este grupo ficará restringido a sete que irão discutir entre si o título final.

Os finalistas, diz a Câmara Municipal de Setúbal, são apresentados para votação pelo público. Essa apresentação far-se-á ao longo de uma vintena de programas televisivos apresentados pela RTP entre julho e agosto. A final deverá ter lugar em setembro.

A cidade de Setúbal tem marcado presença nas diversas edições do certame, tendo o Portinho da Arrábida sido um dos vencedores das 7 Maravilhas Naturais de Portugal em 2010. Já a sardinha assada foi uma das 7 Maravilhas da Gastronomia em 2011.

Para esta edição a Câmara de Setúbal leva a concurso no tema Festas e Feiras, a Feira de Sant’Iago. Na categoria de Lendas, concorre a Lenda da Arrábida, enquanto que no setor de Artefactos apresenta-se a concurso o Chapéu Descarregador de Peixe. Por fim, no item de Procissões e Romarias, concorre a Procissão de Nossa Senhora do Rosário de Tróia.

 

Feira de Sant’Iago

A Feira de Sant’Iago realiza-se na cidade há mais de quatro séculos, sendo considerada uma das maiores entre todas as que têm lugar na região Sul de Portugal. Organizada pela Câmara Municipal, já conheceu diversas localizações dentro da cidade, facto que nem por isso lhe retirou popularidade, conforme o atestam os cerca de 400 mil visitantes que em média são contabilizados.

É um evento multidisciplinar, uma vez que inclui inúmeras demonstrações de atividades culturais e de lazer. No seu decurso, por norma entre a última semana de julho e a primeira de agosto, atuam inúmeros artistas nacionais e estrangeiros, há animação de rua, fazem-se mostras e vendas de artesanato, organizam-se eventos desportivos e a gastronomia tem um particular lugar de destaque, assim como a venda de produtos e serviços de toda a região.

A Feira de Sant’Iago tem como mascote a figura do Zé dos Gatos. Quem era? Foi uma das personagens mais marcantes de toda a cidade. Falecido em 2012, diz-se que simbolizava toda a rebeldia e orgulho dos sadinos.

Jogador inveterado, ganharia muito do seu sustento em partidas de cartas e em artes de magia que, aos domingos, junto à porta das igrejas situadas na Praça do Bocage, apresentava a miúdos e graúdos.

Nasceu com o nome de José Maria Tavares, mas todos o conheciam como Zé dos Gatos, constando-se que chegou a ter em casa mais de 80 destes animais. Eles eram os seus amigos e, quando não estava junto dos mesmos ou entretido em jogos de cartas ou de bilhar, cirandava pela lota e, claro está, por algumas das tascas mais afamadas da cidade, nomeadamente a do Zé Faneca, a do Brasileiro, a Ginginha e o Gravatinha.

O seu modo de vida irreverente e quase marginal fez com que tivesse alguns problemas com a lei. Conta-se que numa ocasião, depois de um polícia o ter mandado cortar o imenso cabelo que já exibia, optou por rapar metade da cabeça, deixando na outra metade a trunfa imensa.

 

Lenda da Arrábida

Não há na zona de Setúbal quem não conheça a Lenda da Arrábida. Esta é a história que se conta a propósito de um rico mercador inglês que no século XIII se fez ao mar para vir viver para Portugal.

Parece que o senhor Hildebrant era muito religioso e, na sua viagem para o nosso país, se fez acompanhar de uma Nossa Senhora de pedra, que teria pertencido, em Inglaterra, à Ordem de São Bento. Esta escultura, conforme reza a lenda, teria passado de pais para filhos.

Acontece que, quase no termo da viagem, uma tempestade medonha empurrou o seu navio para longe de Lisboa, para onde se dirigia. Embarcação e tripulação, na calada da noite, vogavam descontrolado em frente à Praia de Alportuche.

Quando já todos receavam ter chegado a sua hora, brilhou no alto da Serra da Arrábida uma luz que permitiu aos marujos conduzir o navio até um local seguro. Foi então que Hildebrant e os que o acompanham se deslocaram até ao sítio onde surgiu a luz salvadora. Aí constaram que o improvisado farol não era outra senão a imagem da santa. Como é que a mesma ali fora parar, saindo da embarcação sem que ninguém desse por tal? Isso ninguém conseguiu explicar.

Como agradecimento, o abastado mercador mandou construir no local um edifício que depois se tornou sede de uma ordem religiosa. Os documentos sobre esta instituição terão ardido num dos grandes incêndios declarados em Lisboa durante o terramoto de 1755. O devoto Hildebrant parece que viveu o resto dos seus dias deambulando e orando pela Serra da Arrábida.

 

Chapéu descarregador de peixe

Em Setúbal e Sesimbra são muitos os que ainda se recordam de ver, nas décadas de 1940 a 1960, nos cais piscatórios, filas de homens descalços, trajando calcões e camisas de quadrados e usando no alto da cabeça uma espécie de chapéu metálico de abas largas.

Esses homens eram quem descarregava as gigas de pescado desde as traineiras até às fábricas de transformação do pescado (mais tarde passaram a levá-las apenas até às camionetas, que depois faziam o resto do transporte até às unidades fabris conserveiras).

O grande chapéu que traziam à cabeça, assente numa rodilha, impedia que o peixe que caía das canastras fosse parar ao chão e se estragasse. Uma vez dentro do chapéu de abas largas, que era feito de zinco, o peixe revertia, por tradição, para quem o transportava. Dizem as línguas mais atrevidas que era com o intuito de ver cair os peixes dentro do grande chapéu metálico, que muitos descarregadores adotavam um andar gingão e bombeado, quase como se dançassem enquanto trabalhavam.

 

Festa de Nossa Senhora do Rosário de Tróia

Os barcos engalanados com flores e carregando imagens religiosas, atravessando o Sado, entre Setúbal e Tróia, são a imagem de marca da Festa de Nossa Senhora do Rosário de Tróia, uma das mais carismáticas que se realiza anualmente no concelho.

As cerimónias religiosas, onde se inclui uma missa em memória de todos os marítimos falecidos, mas também os espetáculos musicais, a gastronomia e o fogo de artifício são pontos de destaque de festejos que, todos os anos, atraem milhares de visitantes ao concelho e que assim ficam a conhecer melhor a homenagem que os pescadores fazem á sua padroeira, Nossa Senhora do Rosário de Tróia.