A pandemia quase que parou a atividade política na região e até suspendeu congressos distritais no PS, PSD e eleições regionais e locais no BE. No resto da ação política, usa-se e abusa-se dos comunicados de imprensa e do online. É quase um apagão.
Os políticos da região não estão todos em confinamento total. Os presidentes de câmara têm estado na primeira linha da frente, gerindo as comissões de proteção civil e assegurando que as suas autarquias garantam apoios de todo o tipo. E alguns deputados têm ido também ao Parlamento, com as devidas cautelas. Mas as máquinas partidárias estão mesmo a meio gás.
Para já, a pandemia deixou em suspenso os congressos distritais do PS e do PSD, mantendo, até ver, as atuais lideranças. “Ainda foram realizadas as eleições das concelhias, mas o resto foi tudo adiado, não havendo qualquer data em perspetiva”, diz ao Semmais, António Mendes, atual presidente da federação de Setúbal dos socialistas e secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.
No partido do Governo, apenas as reuniões mais macros têm sido realizadas por videoconferência. “Já reunimos com os presidentes das concelhias, com os deputados eleitos por Setúbal e mantemos o secretariado em ação”, explica o mesmo dirigente. Ainda esta quinta-feira o núcleo duro do PS na região emitiu um comunicado sublinhando “o trabalho dos autarcas socialistas, dos municípios e das freguesias com a definição de medidas sociais e económicas de apoio ao rendimento das famílias, das empresas e das instituições de solidariedade em cada concelho”.
O mesmo se passa com os social-democratas. Com o processo de eleição dos novos órgãos sociais em suspenso, e sem datas previstas para o recomeço do processo eleitoral, o partido na região “está a dar primazia às estruturas locais e trabalho realizado” pelos eleitos nos vários órgãos autárquicos “apresentando propostas que possam ajudar as famílias, as empresas e as instituições nos vários concelhos do distrito”, explicou o responsável pelo gabinete de imprensa da Distrital do PSD.
Perguntas, requerimentos, comunicados e muito online
O PCP, Bloco de Esquerda e PAN tem tido uma ação politicamente um pouco mais ‘externa’, apostando nos media, através de comunicados de imprensa. “O surto epidemiológico alterou profundamente a nossa vida individual e coletiva”, diz José Pereira, membro executivo da DORS. E por isso mesmo, acentua o dirigente “é urgente defender os direitos sociais, laborais, salários e rendimentos dos trabalhadores”.
Os comunistas não têm parado de alertar para o que consideram ser “situações graves em empresas que decidiram limitar direitos”. São muitos os exemplos que levaram o partido a fazer perguntas e apresentar requerimentos ao Governo sobre empresas que “prejudicaram trabalhadores”. “São aos milhares os casos na Península de Setúbal, obrigados a realizar tarefas e serviços que antes não lhes competia, ou com aumento de horários e turnos, forçados a gozar férias contra a sua vontade, sem esquecer os que estão em lay-off”, explica o PCP.
E com o 25 de Abril e o 1.º de Maio são esperadas ações mais robustas, apesar do exortar a população para cantar o “Grândola Vila Morena” às janelas, hoje, pelas 15h00. “Será necessário dar voz à indignação e às reivindicações, trazendo à rua a denúncia dos abusos e atropelos de que os trabalhadores estão a ser alvo, afirmando os direitos e conquistas de Abril”, explica José Pereira, membro executivo da DORS. Por isso, no caso da região, está agendada na Avenida Luísa Todi, em Setúbal, uma ação com dirigentes, delegados e ativistas sindicais da CGTP-IN, “respeitando e cumprindo o distanciamento sanitário”.
O Bloco de Esquerda também travou os processos eleitorais internos de âmbito distrital e concelhio. Esta decisão foi tomada durante uma reunião da Mesa Nacional, realizada a 18 de abril. Perante os efeitos da pandemia, os bloquistas só voltarão a tomar novas decisões em junho. Até lá, o trabalho político tem sido feito no Parlamento, com muitas perguntas ao Governo, nomeadamente sobre transportes públicos, distribuição de dividendos da GALP, desalojamento de famílias, na Quinta da Parvoíce, em Setúbal, problemas com o INEM e alguns projetos de Lei e de Resolução.
Outra arma apontada pelos bloquistas são os artigos de opinião que têm sido escritos e publicados pelas deputadas eleitas pelo Círculo Eleitoral de Setúbal, Joana Mortágua e Sandra Cunha. Juntam-se os comunicados de imprensa, a criação de um site sobre despedimentos e debates online “Ao Encontro”, às terças e às sextas, que procuram, segundo disseram os responsáveis do BE na região “promover a troca de informações e a procura de soluções em tempos de pandemia”.
Para além disto, há ainda uma atenção especial ao Estado de Emergência e ao que se passa nas empresas. “No primeiro caso, os eleitos do BE têm articulado as medidas nacionais do partido que passam por apoiar os mais vulneráveis, garantir os direitos e serviços fundamentais e gerar uma comunidade solidária; no segundo, através do site “Despedimentos”, recolhemos denúncias de situações de despedimentos, abusos e incumprimentos de direitos laborais por parte de muitas empresas”, explica o BE ao Semmais.
“Pressão” positiva sobre as autarquias e apoios
O PAN, por sua vez, tem apostado em requerimentos nas diversas autarquias do distrito através dos seus eleitos nas assembleias municipais, no Barreiro, Seixal ou Setúbal, seja para recomendar um centro de testes, questionar a limpeza de fossas sépticas em tempo de pandemia, ou sobre o agravamento da qualidade do ar, com a demolição das chaminés da Central Termoelétrica de Setúbal. E na ação parlamentar choveram perguntas e requerimentos de toda a ordem, a maior parte destas ações ligadas à pandemia.
“Transversal a toda esta atividade mais específica, temos esclarecido e encaminhado diversos munícipes que nos questionam acerca de diversas matérias, nomeadamente direitos de circulação, proteção animal e processos de pedidos de apoio”, acrescenta a responsável de comunicação do Partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza.
O partido que ganhou peso da região a partir das últimas eleições legislativas, arrancou esta cruzada “entrando em contacto com todas as juntas de freguesia do distrito”, para saber quais as redes de apoio “aos fregueses mais vulneráveis, no sentido de lhes levar bens materiais necessários e também levar os seus animais à rua”, explica a mesma fonte.
Mais à direita, o novo presidente da distrital de Setúbal do CDS-PP, João Merino, que começou o mandato quase em simultâneo com o eclodir da crise da Covid 19, tem aproveitado “esta limitação física” da ação política para “arrumar a casa”. “Temos investido em novas formas de funcionamento e comunicação interna, por exemplo com a criação de grupos específicos e temáticos de whatsapp, que nos permite uma comunicação diária”, explica o líder centrista.
Mais para fora da estrutura, o partido diz ter feito propostas “a todas as freguesias do distrito” no âmbito de apoio a idosos, através dos presidentes das concelhias. “Quanto às câmaras, fizemos propostas para isenção de taxas ao pequeno comércio e restauração, bem como redução nos custos da água, medidas que foram implementadas em muitas autarquias da região”.
O partido centrista ofereceu também aos municípios do distrito a cedência dos seus outdoors para uso durante o período de emergência, para “ações de divulgação, informação e sensibilização para as medidas mitigadoras e de combate à Covid 19”, e, através do seu Grupo Parlamentar, empreendeu algumas perguntas ao Governo sobre questões regionais.