Desemprego no distrito de Setúbal deve atingir cerca de 30 mil pessoas

Sindicatos dizem que a razia atinge todos os setores e temem quadro negro para o verão, salientando que muitas autarquias já não possuem capacidade para prestar apoios sociais.

O distrito de Setúbal tinha, no final de abril deste ano, 28.202 desempregados, quase um quarto do total das pessoas sem trabalho (121.004) existentes em toda a região de Lisboa e Vale do Tejo. Os números do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) podem vir a ser substancialmente mais elevados no final de maio e, de acordo com algumas estruturas sindicais, é mesmo previsível que ultrapassem os 30 mil. O setor do turismo e, dentro deste, a restauração, é o que maiores danos tem sofrido devido à pandemia de Covid-19.

“Os números do desemprego no distrito de Setúbal são avassaladores. Mostram um aumento bastante significativo, mas não surpreendem”, começou por dizer ao Semmais o presidente da UGT de Setúbal, Manuel Fernandes. Para este dirigente sindical, a restauração e o setor dos serviços têm sido os mais afetados e poderão vir a sofrer danos mais acentuados, caso exista um considerável número de estabelecimentos que não consiga reabrir, por falta de capacidade financeira, a partir de hoje, dia 1 de junho. “Os que não retomarem agora a atividade, dificilmente vão conseguir recuperar durante o verão. Isso significa que mais empresas irão encerrar definitivamente, e não serão apenas as que se dedicam à restauração, porque ligadas a estas há muitas outras, como por exemplo as do comércio local ou as do aluguer de automóveis que terão igualmente de fechar portas”, acrescentou.

Se para a UGT os valores do desemprego na restauração são preocupantes, para o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Sul (vulgarmente conhecido por SIT Sul), afeto à CGTP, existem especiais preocupações com as empresas ligadas aos setores dos automóveis, de componentes para a aviação, de logística e de medicamentos.

Eduardo Florindo, dirigente desta estrutura, cita de memória os casos de despedimentos em empresas do Parque Industrial da Autoeuropa (automóveis), a Lauak (componentes para aviões) ou a Plantfield (logística e transporte), para ilustrar um cenário cujos tons dominantes são o cinzento e o negro. “Tem havido muitos despedimentos em empresas de Almada, Barreiro, Montijo ou em Sines, por exemplo. Por outro lado, com exceção de uma fábrica de elevadores, que criou cerca de 60 ou 70 postos de trabalho, mais nenhuma empresa empregou gente nos últimos tempos”, disse ao nosso jornal.

“Vamos, no dia 1 de junho (hoje), reunir com a ministra do Trabalho. Nessa ocasião deverá existir um conhecimento bem mais aprofundado da extensão desta crise laboral que, se agora está a atingir sobretudo os trabalhadores temporários, mais para diante poderá ser devastadora para todos os outros”.

 

Apoios sociais escasseiam nos cofres das câmaras

Os concelhos de Almada, Seixal e Setúbal, onde o IEFP contabilizou no final de abril, respetivamente, 6.202, 5.916 e 5.439 desempregados são apontados pela UGT como aqueles onde existem maiores preocupações. “Faltam apoios sociais para estas pessoas. Muitas câmaras municipais, que mesmo antes da pandemia já tinham imensas dificuldades, não conseguem agora – e dificilmente o irão conseguir no futuro – garantir os apoios para o número crescente de desempregados”, afirma Manuel Fernandes.

O mesmo dirigente salienta que o Estado não terá capacidade de resposta para suprir as carências das autarquias e que, “se o lay-off agora ainda vai disfarçando alguma coisa, a médio prazo há um elevado número de empresas que não irão sobreviver”. “Poderá ser um drama”, sintetiza.

O dirigente da UGT atesta ainda que em relação ao distrito de Setúbal é igualmente urgente analisar a situação dos concelhos do Alentejo Litoral. Se em Sines é o setor empresarial que domina, já em Grândola, Alcácer e Santiago do Cacém assume destaque o turismo. “Neste momento, tal como acontece em relação à restauração, ainda há desconfiança por parte dos cidadãos nacionais e estrangeiros. Se não existir uma campanha de promoção regional forte, muitas unidades de turismo não terão capacidade para sobreviverem e essa atividade, que é tão importante em termos financeiros para todo o distrito, poderá deixar desempregadas muitas mais pessoas”, acrescentou.

Manuel Fernandes entende que a abolição de vários procedimentos burocráticos e a aplicação de isenção de algumas taxas podem ser, no imediato, soluções que ajudem a salvar empresas dos diversos setores. Essas medidas, diz, terão de merecer o apoio das autarquias, que “serão determinantes no processo de retoma económica”.