Estamos a viver, à escala mundial, mais um período conturbado que exorta o combate ao racismo, a pretexto de mais um horrendo homicídio de um preto perpetrado por um polícia americano. É positivo, mas sou muito avesso a generalizações, porque, na maior parte dos casos, representam um estado de espírito raramente assente em objetividade e contribui para perceções perniciosas.
É verdade que no caso americano a pandemia da cor ainda corre desmesuradamente no sangue cultural daquela sociedade, agora sob a batuta do movimento ‘Alt-right’. Os resquícios da Guerra da Secessão, em 1860, com os confederados do Sul a querer manter a escravatura sob a bandeira da supremacia branca e, ainda mais recente, a ideologia do ódio levada ao extremo pela ‘Ku Klux Klan’, explicam o caldo dessa ambiência.
Mas não me parece haver um todo Ocidental que defina a apologia da identidade branca como princípio basilar da organização da sociedade. Por isso, considero haver uma histeria à volta deste e de outros casos de abuso de autoridade. Não é com demolição de estátuas, retirada de filmes do mercado e tantas outras iniciativas levadas na onda que se resolve o problema essencial: combater todos os tipos de racismo, xenofobia e anti-imigração.
A história da Europa, com as descobertas, conquistas, colonizações e impérios, está pejada de crime. Mas é também uma história de construção civilizacional, que tem, no seu percurso, feito as suas contas com esses passados.
Muito menos a partir deste efeito manada, acrítico, que parece ter contaminado o bom senso da raça humana, num terrorismo cultural e histórico que alimenta o populismo de virar uns contra os outros.
Hoje a Europa, com Portugal incluído, vive um turbilhão de problemas, mas sobretudo no seu caminho de atenuar as desigualdades e o combate à desproteção das minorias. Quando se confunde uma coisa com outra não há caminho a seguir.
As atrocidades que a História nos conta devem ser combatidas com uma nova ordem social que integre, não segregue. Que não continue a sugar os países menos desenvolvidos e não abastar alguns facínoras e ditadores que, sobretudo no rico continente africano, vivem de opulência, guerras e povos submetidos à lei dos mais fortes.
EDITORIAL
Raul Tavares
Diretor