O Festival de Teatro de Almada, cuja 37ª edição decorre entre 3 e 26 de julho, adaptou a programação aos tempos de pandemia. Muitas companhias nacionais e apenas três estrangeiras são o sinal do momento que dita também uma quebra acentuada de receitas de bilheteira.
Almada recebe um dos mais conceituados festivais de teatro europeus e, mesmo em ano de pandemia, a organização não quis deixar de levar a cabo o consagrado evento ainda que com as devidas adaptações às atuais necessidades sanitárias.
Este ano, a programação estende-se por mais tempo e, em vez dos habituais quinze dias de festival, passa a três semanas “de forma a ser possível fazer mais sessões do mesmo espetáculo atendendo à redução de lotação das salas”, explica ao Semmais Miguel Martins, do Teatro Joaquim Benite.
O prolongamento no tempo é apenas uma das alterações verificadas. Nesta edição não se realizam os habituais espetáculos ao ar livre “atendendo à dificuldade de controlar o número de pessoas e para evitar as consequentes aglomerações” e a programação acenta essencialmente na produção nacional em detrimento das habituais presenças de companhias estrangeiras.
A nível europeu muitos dos festivais de teatro foram cancelados devido à Covid-19, designadamente os de Edimburgo e Avignon, por isso é ainda de maior importância e destaque a realização do evento português. Durante os primeiros meses de pandemia a organização questionou o público para perceber se, no caso de se realizar o festival, as pessoas assistiriam e acompanhariam o mesmo. “A resposta dos inquiridos foi positiva e quando surgiu a informação de que as salas de espetáculo abririam em junho, decidimos que o nosso festival se ia fazer. No fundo, nós quisemos, o público quis e as companhias quiseram”.
Balão de oxigénio para as companhias nacionais em cartaz
As limitações de circulação de pessoas e o encerramento de algumas fronteiras reduziram significativamente o número de companhias estrangeiras. A dupla catalã Agnès Mateus e Quim Tarrida, a companhia La Tristura, também de Espanha, e o italiano Mario Pirovano são os convidados estrangeiros do festival que vai homenagear o ator e encenador Rui Mendes.
Quanto às presenças nacionais, destaque para três estreias, uma delas logo na abertura com “Bruscamente no Verão passado”, de Tennessee Williams, numa encenação de Carlos Avilez para o Teatro Experimental de Cascais. As outras são “As artimanhas de Scapin”, pela Comuna, e “Instruções para abolir o Natal”, da Companhia de Teatro do Algarve.
O Festival reveste-se assim de especial importância para as companhias lusas, uma vez que “muitas estão praticamente paradas há meses, muitas não conseguiram estrear os trabalhos que tinham preparados e esta é uma oportunidade, não só de mostrarem essas obras como pode ser um balão de oxigénio em termos financeiros”, considera Miguel Martins para quem “esta será uma edição histórica do festival”.