É o mais importante monumento de Setúbal, mas há vários anos que a população pouco usufrui dele. Quase duas décadas depois de ter sido lançado o concurso para a recuperação do convento, as portas abrem, finalmente, este sábado.
Nos dois últimos anos, o Convento de Jesus voltou a fechar portas para a segunda fase das obras de recuperação. Em 2015, tinha reaberto a ala poente, após uma intervenção que durou três anos, mas em 2017 voltou a encerrar para a reabilitação das alas este e norte, dos claustros, da igreja e do coro alto. O resultado da segunda fase fica a conhecer-se este fim-de-semana, com a reabertura do espaço cuja zona envolvente foi alvo de uma profunda reestruturação, exibindo agora um jardim no espaço que durante anos foi usado como skate parque. Fica ainda a faltar a terceira parte que incluirá trabalhos nas alas norte e nascente, assim como o projeto de museografia que deve arrancar em 2021. No total são mais de sete milhões de euros para devolver o monumento à cidade.
Ao longo dos anos, muitas foram as promessas de recuperação do convento, espaço onde funciona também, desde 1961, o Museu da Cidade. Entre avanços e recuos, com anúncios de obras que nunca saíram do papel e a realização de algumas pequenas intervenções, este património, considerado uma “joia do manuelino” foi sofrendo o desgaste normal do tempo e, em 2013, é identificado pela organização internacional Europa Nostra como um dos sete monumentos em risco na Europa.
No ano anterior, a Direção Regional da Cultura de Lisboa e Vale do Tejo tinha protocolado com a câmara de Setúbal a cedência do convento, igreja e terrenos adjacentes, tendo a autarquia avançado com a primeira fase das intervenções, incluindo nesse procedimento a recuperação estrutural de todo o convento e da ala poente, permitindo assim que uma parte do espaço fosse aberta ao público, em 2015. A empreitada de mais de 3 milhões incluiu trabalhos nas redes de drenagem e abastecimento de águas, para além da execução integral da cobertura do convento e do edifício de área técnica.
Durante sensivelmente dois anos, o convento e o museu estiveram abertos ao público, mas o arranque da segunda fase das obras ditou novo encerramento. As intervenções, orçadas em cerca de 2 milhões, centraram-se essencialmente nos claustros, na igreja e no coro alto, para além de trabalhos executados nas alas este e norte.
A próxima empreitada, que deverá arrancar em 2021, permitirá a conclusão das salas nas alas norte e nascente, nos pisos zero e um, e, em fase de projeto, está ainda o edifício de apoio ao museu e a requalificação da zona a norte do convento.
Da última freira à atualidade muitas foram as intervenções
O Convento de Jesus foi fundado em 1490 pela ama do rei D. Manuel I, Justa Rodrigues Pereira, e ocupado por Freiras Clarissas ao longo de vários séculos até à morte da última freira, em 1881. Durante esse período sofreu várias remodelações e melhoramentos, mas também algumas obras profundas, nos finais do século XVI, XVII e XVIII.
Em 1889, o edifício é cedido à Santa Casa da Misericórdia de Setúbal, para aí instalar o Hospital. Já no século XX, em 1961, o espaço passa a albergar o Museu da Cidade e, em 1989, têm início obras de beneficiação do largo de Jesus, em frente a igreja.
Nos últimos 30 anos, a gestão do museu e do convento esteve grande parte do tempo nas mãos do IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitetónico) que, por várias vezes, prometeu e anunciou obras que nunca chegaram a começar.
A 15 de fevereiro de 2012 com a passagem da gestão para a autarquia, a recuperação passa também a ser responsabilidade da edilidade que, nos últimos sete anos, realizou trabalhos que permitem a abertura ao público.
O dia escolhido é 10 de outubro e para além da cerimónia protocolar, o programa de reabertura do convento conta com um espetáculo de vídeo mapping e um concerto com Rodrigo Leão. Serão ainda realizadas visitas guiadas e apontamentos culturais, de música e teatro, ao longo do fim-de-semana.
Com esta reabertura, os setubalenses ganham também um novo jardim, em frente a igreja, no Largo de Jesus, onde o verde da relva contrasta com o antigo terreno em pedra que foi, durante anos, usado pelos skaters da cidade.