Está lançado o rastilho que vai ferir de morte o avanço no novo aeroporto do Montijo, previsto para aproveitamento da base área ali instalada.
Segundo as últimas notícias, a PJ fez buscas à APA, ao ICN, a gabinetes de advogados e sei lá mais quem. Alegadamente, estará em causa suspeitas de falsificação de documentos, abuso de poder e corrupção no processo que conduziu à Declaração de Impacte Ambiental.
Não me ocorre dar, para já, qualquer gradação à investida das autoridades policiais. Sei bem como estas coisas começam, o tempo que demoram e, quase sempre, como acabam.
No caso vertente, o que importa do meu ponto de vista é que vamos ficar a ver, mais uma vez, o aeroporto pelo binóculo. E isso não é nada bom. É uma sina.
A juntar a este facto das suspeitas que correm, que fará certamente fazer brotar muita tinta, há o arrefecimento da atividade aeroportuária à escala global. Acresce a posição irredutível da maior parte dos municípios da península de Setúbal, com Moita à cabeça. Portanto, é quase uma morte anunciada.
Mas esta infraestrutura é indispensável para a Grande Lisboa e deve instalar-se na região. Parece haver consenso alargado sobre este desfecho. Montijo ou Alcochete? Se as próximas autárquicas não definirem um arrumo político diferente, a questão vai manter-se, sendo que a manutenção deste diferendo sobre a localização futura do aeroporto na margem Sul, pode empurrar o equipamento estratégico para outras paragens. Beja, por exemplo, ou para a margem norte de Lisboa, com o ressuscitar da opção OTA.
Perante este quadro, seria muito importante que neste próximo ano pudesse haver alguma definição sobre o que pensa e o que quer a região, agora que os autarcas elegeram um poder intermédio relevante como a CCDR-LVT. E seria bom que se pensasse nos fundos que o país vai receber, oportunidade decisiva para exigir grande investimento público para a península de Setúbal. E mais ainda que se evitassem querelas que ponham em causas esses objetivos.
Que se apure o que houver a apurar sobre suspeitas, mas que se não se ponha em causa, mais uma vez, aquilo que a região reclama e tanto precisa.
Raul Tavares
Diretor