O Futuro já não é uma miragem

Entre os extremos há um largo espaço de manobra para as ideias que cada um esgrime com maior ou menos escândalo ou, sucesso. Se por cá, um professor da Faculdade de Direito compara o feminismo ao nazismo entre outras barbaridades, noutras paragens é o feminismo “extremista” que faz franzir os sobrolhos, sendo que o “extremismo” feminista, pode ir desde ser permitido conduzir um veículo na Arábia Saudita (sim, já é possível, mas as mulheres que o exigiram continuam presas) até a afirmações que tornam os homens numa inutilidade condenada à extinção.

A divisão social do trabalho, na pré-história, por razões que se prendiam com as exigências da vida nómada, perdurou sob múltiplos aspectos nas sociedades humanas, até aos dias de hoje, traduzindo-se numa desigualdade que há muito deixou de fazer sentido.

Em Portugal, como na Europa, apesar de todo o progresso quer ao nível legislativo, quer ao nível das mentalidades, a verdade é que continuamos a ter um significativo fosso salarial entre homens e mulheres. Um estudo do Eurostat mostra que se mantivermos a progressão para a igualdade salarial ao nível dos últimos 8 anos, a iremos atingir dentro de 84 anos. Pior, estes são os números da média europeia na verdade, em Portugal, o fosso ainda não parou de alargar (de 12,8% em 2010 para 16,8% em 2018) o que torna a igualdade salarial numa miragem. Por isso, a Directiva Europeia sobre Transparência Salarial, que se anuncia para breve, é importante para dar o passo em frente e caminhar decididamente no sentido de transformar palavras em actos.

A mulher deve ter acesso ao mercado de trabalho em condições de igualdade de oportunidades em termos de formação, de participação, de carreira e de salário. Num mundo em transformação, em que as parcerias humano-máquina terão uma importância crescente é mais do que tempo de aproveitar a oportunidade para finalmente nos livrarmos dos atavismos do passado e caminhar em direção a um futuro em que a igualdade de oportunidades seja uma realidade. Há um grande desafio no feminino: adquirir competências digitais. Este é um desafio a que a sociedade terá de responder, se não quiser encontrar desculpas para perpetuar a desigualdade.

A igualdade de oportunidades não representa uma ameaça para os homens, representa uma libertação relativamente ao paradigma “eu sou o que faço”, que tem implicações profundas na sua saúde mental em tempos de aposentação ou, de desemprego. Tudo indica que a evolução tecnológica que já, aqui, mora irá ditar uma crescente necessidade de adaptação a uma permanente renovação das condições do mercado de trabalho e mais períodos de interrupção entre empregos.  As máquinas deixaram de ser meros executores e têm já, a capacidade de tomar decisões o que traz desafios para a humanidade que desde cedo estruturou as suas sociedades sobre o trabalho. Homens e mulheres terão de saber gerir o impacto das novas tecnologias nas suas vidas e na vida das organizações. Este é um desafio que não é de mulheres ou de homens, é um desafio da humanidade.

CRÓNICAS DISTO E DAQUILO
Catarina Tavares
Dirigente Sindical