A história de João, Pedro, Henrique, Luís e António teve um final feliz. Depois de viverem na rua durante anos, conseguiram um teto. A população sem-abrigo acolhida pela Cáritas aumentou 150% com a chegada da pandemia.
Diariamente, a Cáritas Diocesana de Setúbal fornece 300 refeições às pessoas em situação de sem-abrigo e, desde março de 2020, decidiu oferecer a pernoita a quem se encontrasse a viver na rua. “Muitas estavam abrigadas em armazéns devolutos e se acontecesse algo ninguém as conseguiria salvar”, partilha com o Semmais Clara Vilhena, diretora do Centro Social São Francisco Xavier e Coordenadora do NPISA- Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-abrigo, adiantando que, face ao aumento dos pedidos de ajuda, a diocese tomou outras medidas.
No salão da Cúria chegaram a ser abrigadas 50 pessoas durante três meses, mas com o apoio da instituição conseguiram arranjar soluções para as suas vidas, ficando apenas cinco homens sem situação resolvida. “Estas cinco pessoas não conseguiam que ninguém lhes alugasse um quarto”, conta a responsável, lamentando as dificuldades no arrendamento de casas para esta população, com recusas de entidades e senhorios. A Cáritas decidiu intervir e arrendou um apartamento para viverem em regime de “Casa Compartilhada” e “não voltassem para a rua”.
Cinco homens com tantas diferenças e um desfecho comum
João, Pedro, Henrique, Luís e António (nomes fictícios) viram assim a vida mudar quando surgiu a oportunidade de coabitarem numa casa em Setúbal. Com histórias distintas, João estava na rua há mais de dois anos e quando começou a receber o apoio social, no valor de cerca de 400 euros, pediu à Cáritas para integrar o grupo, assumindo comparticipar no pagamento da renda. Pedro ocupava uma casa sem condições e tinha problemas de alcoolismo, que começaram a melhorar quando integrou o projeto “Casa Compartilhada”. Luís deambulava por Setúbal e Montijo quando, com o medo de ser infetado pelo novo coronavírus, decidiu recorrer à Cáritas. Henrique vivia numa tenda fora da região e o seu pedido de ajuda chegou pela mão da autarquia sadina. Já António, refugiado da guerra com cerca de 70 anos, foi acolhido durante um ano em Setúbal com outros refugiados, no entanto a não adaptação à língua inglesa impediu-o de arranjar trabalho como os outros colegas de casa, ficando impossibilitando de ter independência económica. Carpinteiro de profissão, apenas fala em árabe, pelo que a comunicação com os colegas e a diocese é feita a partir do tradutor do telemóvel.
Com a alimentação oferecida pela diocese, cada um destes cinco homens comparticipa com 200 euros para as despesas, podendo usar o restante valor dos apoios sociais nas suas necessidades pessoais. “É notável a satisfação deles, ao terem o compromisso de ao dia 10 pagarem a sua parte da renda”, diz Clara Vilhena, adiantando que já são notáveis os resultados positivos da reintegração, enquanto alerta para o facto de o Centro Social São Francisco Xavier oferecer respostas com ateliês de fotografia, música ou artes plásticas para quem quer sai da rua.