Reinventar o Turismo ou Voltar ao Essencial?

Depois do tsunami (pandemia) que varreu o turismo português (e o do resto do mundo, já agora) muitos e muitas agarram-se ao tema da redenção. Com várias matizes. Do “nada será como dantes”, ao “o turismo vai ser reinventado” passando pelo “elogio do fim do sobre turismo e da turistificação”.

Pensar que a pandemia trouxe algo de bom (ao turismo) é ignorar o seu peso na economia e a sua importância no emprego em Portugal. Como não foram inventadas (assim do nada) atividades alternativas o que temos é, apenas e só, prejuízos (muitos) e desemprego (a subir). O Algarve é, exemplarmente, todo o país.

Diferente é considerar que temos bastante a aprender (no contexto do turismo) com a pandemia. O que é aliás uma evidência. Aprender que o que se considera garantido não existe e que a oferta (a que já existe, não aquela que poderá ser inventada) deve aproximar-se rapidamente de práticas mais sustentáveis.

Conclusões e propósitos essenciais com ou sem pandemia. A sustentabilidade é a base para termos não apenas turismo mas planeta. Sem o qual nem turismo nem qualquer outra coisa. Apenas uma catástrofe sem apelo.

Sustentabilidade é sem dúvida a palavra. O problema é quando é só palavra. Conversa da treta. Sem conteúdo nem consequência. Sustentabilidade é concreto. Concreto como água, energia, CO2, resíduos, tudo em menos. E reciclagem, proteção dos recursos naturais, gestão dos destinos (sim, temos de definir capacidades de carga onde é preciso) tudo em mais.

O “novo turismo” é assim o mesmo turismo de sempre. Só escolhemos um destino se ele valer a pena (concorrência é o que não falta). E valer a pena é o mesmo que uma boa experiência. Só queremos estar (em turismo) onde pensamos ser felizes. O ambiente, a personalidade, o povo (um dos mais importantes recursos apesar de tão pouco valorizado pelos inteligentes do turismo), o património e as cidades fazem a diferença. Se forem exemplares queremos lá estar. Se não forem só queremos estar longe.

Numa região com importantes cidades (Almada; Setúbal; Barreiro; Montijo) o tema das cidades é particularmente importante. As cidades são o nosso ecossistema. Os humanos inventaram as cidades. Vivem em cidades. Para o bem e para o mal.

Torná-las mais nossas amigas é o único caminho que nos resta. Se o conseguirmos não duvidem que voltaremos a ter cidades onde vamos querer estar.

É por esta razão que não existe essa coisa chamada turismo. Existem sim locais exemplares. Para onde apetece correr. Onde apetece ficar. A construção destes locais exemplares continua a ser a real construção do turismo. Por isso a insinuação de um “novo turismo”, que tiraria administrativamente as cidades da equação das viagens, não passa da ideia absurda de destruir um setor com milhares de empresas e dezenas de milhares de empregos dedicados aos turistas reais que sempre nos visitaram.

O desafio é melhorar a oferta que já tínhamos e que nos permitiu ser eleitos como o melhor destino do mundo. Voltar ao essencial é fundamental. Precisamos de ter de volta os turistas às nossas ruas e praças. Ruas e praças de cidades.

Sustentabilidade e digitalização são coisas também de cidades. Cidades com turistas e visitantes. Cidades vivas. As nossas cidades. Numa certa forma o essencial das nossas vidas. E também do turismo.

Turismo Semmais
Jorge Humberto
Colaborador