A azáfama não cessa nos barbeiros e cabeleireiros, ao contrário do que acontece nos poucos estabelecimentos de pronto-a-vestir que aderiram à venda ao postigo. Na restauração está instalado o desânimo.
O início da semana ficou assinalado pela reabertura de alguns negócios, fosse na totalidade, como é o caso dos babeiros e cabeleireiros, fosse apenas ao postigo, como algumas lojas de vestuário ou estabelecimentos de restauração. Há sentimentos diferentes em cada um destes setores de atividade. Nas poucas lojas de roupas que reabriram não se notaram diferenças substanciais face às vendas que estavam a ser feitas online. Os salões de cabeleiro estão à pinha. Já na restauração pairam nuvens negras.
Carina Gomes é a proprietária da Womanstore, uma loja de roupa de senhora em Alcochete e um dos poucos estabelecimentos do género que começou a fazer vendas ao postigo na segunda-feira. Diz que, desde então, poucos mais clientes apareceram. “São realmente poucas as pessoas que surgiram para comprar alguma coisa. As que aparecem, não fazem compras por impulso, mas porque vem buscar algo que haviam encomendado por já terem visto nas redes sociais”, explica.
Esta comerciante diz que com o confinamento foi obrigada a “criar novas dinâmicas”, nomeadamente através das redes sociais, e que foi essa a chave para continuar a vender, “embora a um ritmo muito mais baixo”, e a preservar o negócio onde trabalha com uma empregada.
Cabeleiros e barbeiros sem vagas nas próximas semanas
Se as vendas ao postigo são poucas e seja até difícil encontrar nos concelhos estabelecimentos que tenham aderido, já o ambiente em salões de cabeleireiro e barbearias tem sido frenético.
No Cidália Cabeleireiros, em Setúbal, as nove mulheres que ali trabalham têm atendido uma média de 140 a 150 clientes por dia, conforme explicou a cabeleireira Sandra Andrade.
“São, quase todas, clientes habituais. Começaram a contactar-nos logo que souberam que íamos voltar a abrir e agora temos todo o tempo preenchido até ao final da semana”, disse.
O mesmo se passa com a Navalha Afiada, barbearia do Barreiro que desde segunda-feira conseguiu fazer uma lista de clientes até ao final da próxima semana. “Antes desta reabertura tínhamos duas horas para almoço, mas agora reduzimos para uma. Estamos, os quatro barbeiros, a trabalhar nove horas por dia”, explicou Daniel Correia.
Este barbeiro afirma que os preços se mantiveram inalterados e que a média de clientes é de 36 por dia. “Fazemos marcações de uma hora por cliente, para dar tempo a desinfetar todo o material”.
Restauração antecipa tsunami para o mês de maio
Já a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) estima que cerca de 40% dos estabelecimentos do distrito não consigam reabrir portas quando for decretado o fim do estado de emergência.
Esta estimativa, de que deu conta ao Semmais o diretor de Setúbal, Mauro Ribeiro da Silva, baseia-se num estudo feito a nível nacional, o qual refere que 38% dos empresários inquiridos referiram não ter condições financeiras para poderem retomar os respetivos negócios.
“É uma situação extremamente dramática e que se afigura ainda pior do que a verificada quando do primeiro confinamento”, disse aquele responsável, adiantando que “deverão ser centenas os restaurantes, cafés e pastelarias que não vão reabrir, e que que serão também muitas as pessoas, milhares, aquelas que irão perder os empregos”.
“Muitos empresários não estão a conseguir pagar os salários. Alguns já faliram e outros estão à beira da falência. Esta situação é como se fosse um segundo tsunami que atinge o setor, sendo que este trará consequências bem mais devastadoras”, referiu.
Maio, diz ainda o representante da AHRESP, irá revelar a verdadeira dimensão “da tragédia”. “O mais provável é que muitos trabalhadores de balcão, na sua maioria jovens e sem qualificações para trabalharem noutro ramo, fiquem sem emprego. O mesmo deverá acontecer a muitos outros, mais velhos, que trabalham nas cozinhas e copas”, disse.
Aos empresários do ramo foi autorizado, apenas, que fosse retomada a venda de bebidas nos serviços take away, medida que de acordo com Mauro Ribeiro da Silva foi manifestamente insuficientes para promover alguma retoma financeira”.