Transtejo avança com navios elétricos, mas exigem garantias de manutenção da frota

O negócio é de mais de 52 milhões de euros e deverá estar concluído em 2024, com seis anos de atraso face à data inicialmente prevista. Subsistem receios por falta de reparações.

Ao fim de seis anos de negociações, de contestações e apreciações judiciais, a Transtejo vai, finalmente, poder avançar com uma nova frota de navios. Serão dez embarcações elétricas que, entre o próximo ano e 2024 irão atravessar o Tejo. Esta medida, anunciada no dia 19, deixa satisfeita Comissão de Utentes dos Transportes da Margem Sul (CUTMS). “Satisfeitos, mas de pé atrás!”, conforme fazem questão de sublinhar, uma vez que, dizem, ainda há “graves problemas de funcionalidade e higiene em algumas carreiras”, nomeadamente na mais movimentada e que liga Cacilhas ao Cais do Sodré.

Foi a própria Transtejo/Soflusa quem anunciou ter chegado a acordo para a compra de dez navios elétricos, os quais irão ser construídos pelo estaleiro asturiano Gondán, SA. O total do negócio ultrapassa os 52,4 milhões de euros. Essas mesmas embarcações destinam-se, já a partir do próximo ano, a operar a partir de Cacilhas, Montijo e Seixal.

Se para a Transtejo/Soflusa este é um negócio que merece elogios, tanto mais que irá permitir reduzir as emissões de gases de efeito de estufa (em 2019 a frota consumiu 5,249 milhões de litros de gasóleo, sendo responsável pela emissão de 13.122 toneladas de CO2), já para os representantes dos milhões de pessoas que durante cada ano fazem a travessia subsistem algumas dúvidas. “temos de saber, para que não aconteça o mesmo que aconteceu noutras fases do processo, e que o atrasaram irremediavelmente, se estão asseguradas as condições de manutenção dos navios, para que os mesmos possam operar de modo continuo e sem paragens por lhes ser retirado o certificado de navegabilidade”, disse ao Semmais Marco Sargento, da CUTMS.

“A existência de boas condições nas embarcações que ligam as margens do Tejo é fundamental. Quero lembrar que já deviam estar a navegar alguns destes navios desde 2020, mas que há sempre atrasos. Um deles foi motivado, precisamente, pelas dúvidas quanto à manutenção. Neste caso, não temos informações se a mesma está assegurada ou se, daqui, por uns tempos, metade ou mais da frota estará parada por falta de acompanhamento”, atirou Marco Sargento.

“Ninguém se deve esquecer que há uns anos, quando os barcos foram obrigados a acostar por falta de licença de navegabilidade, chegaram a acontecer situações em que pessoas da margem Sul, que concorriam a empregos em Lisboa, acabavam por ser preteridas porque não existia a certeza de poderem cumprir os horários. Tudo por causa dos atrasos verificados nas travessias marítimas”, contou ainda o mesmo responsável da comissão.

 

CUTMS apela ao reforço das ligações marítimas na margem Sul

A CUTMS, que lamenta o facto de na linha mais utilizada (Cacilhas/Cais do Sodré, que demora apenas sete minutos) estarem a ser utilizadas embarcações com mais de 30 anos, diz também que é urgente que sejam criadas travessias marítimas entre alguns dos diversos portos da margem Sul.

“Hoje já se justifica uma linha entre Cacilhas e o Barreiro e outra entre o Seixal e Cacilhas. O volume de passageiros assim o determina. Para uma pessoa que queira, por exemplo, ir de Cacilhas até ao Barreiro, a viagem pode demorar, por terra, mais de duas horas. Acaba por ser muito mais rápido ir até Lisboa e depois apanhar um barco novamente para a outra banda”, exemplifica Marco Sargento.

Sobre as condições das embarcações, Marco Sargento refere que as que agora operam não são climatizadas e que as condições de higiene são “muito más”. “Todos estes problemas se devem ao desinvestimento decretado quando Passos Coelho era primeiro ministro. Não houve reforço da área da manutenção, tal como ainda hoje essa não funciona como deveria, e os navios acabam por ser assistidos por empresas privadas, aumentando as despesas e diminuindo a qualidade do serviço”, disse.

O Programa de Recuperação e Resiliência do Estado prevê que a Transtejo/Soflusa receba quatro navios. Serão esses os quatro que a empresa afirma que estarão a operar até final de 2022 (um virá ainda este ano e os restantes no ano seguinte). Em 2023 a empresa espanhola responsável pela sua construção deverá entregar mais três e, por fim, os dois restantes chegarão a Portugal até ao primeiro trimestre de 2024.