Montijense Fernanda Fragateiro pensa e questiona o mundo através da arte

À conversa com o Semmais, a artista plástica recorda os tempos de infância passados no Montijo, onde nasceu, e que serve hoje de inspiração para os trabalhos que desenvolve.

Fernanda Fragateiro é reconhecida pelas intervenções escultóricas e arquitetónicas em espaços públicos, em particular, mosteiros, casas em ruínas ou jardins. Interessa-se por práticas artísticas e arquitetónicas da vanguarda do século XX. É no seu atelier, em Lisboa, que passa grande parte do tempo a trabalhar nos vastos projetos que se caracterizam, sobretudo, numa interdisciplinaridade em que a escultura, a instalação, a cerâmica, a arquitetura, o design ou a ilustração se cruzam e relacionam reciprocamente. “A arte é e foi sempre uma forma de pensar e de questionar o mundo e de cruzar todos os saberes, trazendo à luz do dia aquilo que nem sempre é visível”, conta-nos Fernanda Fragateiro.

Aos onze anos, desenhava caricaturas da filha do presidente da República, na altura Américo Tomás. O gosto começou, então, a manifestar-se. Não por influência da família, que não estava ligada a este mundo, mas as sensibilidades dos pais contribuíram para a aproximação de Fernanda Fragateiro às artes. A infância foi passada no Montijo, onde nasceu em 1962, tempos que servem hoje de inspiração para os projetos da artista, para além do trabalho e do pensamento de outros criativos. “A paisagem ribeirinha e a experiência de uma infância vivida em liberdade foram fundamentais para o rumo que dei ao meu trabalho, sobretudo nos projetos para o espaço público onde valorizo os espaços vazios e desejo potenciar uma experiência de liberdade nesses lugares que ajudo a construir”, partilha com o nosso jornal a artista que vive em Lisboa desde os quinze anos, altura em que começou a estudar na Escola António Arroio e, posteriormente, na de Belas Artes.

 

Artista está representada em mostras nacionais e internacionais

Depois de exposições individuais na Alemanha, Reino Unido e Espanha, da participação na Trienal de Arquitetura de Lisboa (2010), e na Dublin Contemporary (2011), o seu trabalho tem vindo a ter cada vez mais destaque na arte contemporânea europeia, com exibições em museus e centros culturais nacionais e internacionais, como o Palm Springs Art Museum, nos Estados Unidos, o Palais des Beaux-Arts de Paris, para além de estar representada em coleções como as da Caixa Geral de Depósitos, Fundação Serralves, Fundação Calouste Gulbenkian, em Portugal.

“Neste momento tenho uma escultura composta por três elementos que se sobrepõem e refletem entre si, na Manteigaria, em Lisboa. Foi criada no contexto de um projeto da autarquia para trazer para as lojas da Baixa Pombalina, obras de arte contemporânea pensadas especificamente para estes lugares”, diz Fernanda Fragateiro ao Semmais acrescentando que se trata de “uma escultura abstrata, formada por grelha com um desenho que se repete e que foi inspirado na artista americana Agnes Martin”.

“Tudo o que eu quero”, é o mais recente projeto da artista plástica. A mostra coletiva, com três esculturas, está patente na Gulbenkian, em Lisboa, desde ontem. “Esta exposição mostra um grande conjunto de obras de mulheres artistas portuguesas”.

A montijense está ainda envolvida noutros projetos para o espaço público, alguns em colaboração com arquitetos, e encontra-se a preparar “A Cidade Incompleta”, a ser exibida a partir de 26 de julho, no Museu de Arte Contemporânea de Elvas, com a curadoria de Delfim Sardo.